A Prosa ...da Vida!

Não escrevo só poemas...
Também nem todos os textos serão meus!
Irei aqui deixar-vos percorrer textos, mensagens e vivências de Meu Pai!
Meu Pai!
Um filósofo anónimo, dos muitos que há neste Povo, e que são esquecidos, ignorados e muitas vezes humilhados por aqueles que...nada sabem!

sábado, 31 de maio de 2008

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA



Dia Mundial da Criança



Vem aí mais um Dia Mundial da Criança!
Não que tenha nada contra esse ou outros Dias Mundiais!
Apenas me revolta a hipocrisia desta sociedade que elege um Dia Mundial para um determinado tema e, durante o resto do ano, se esquece do assunto!
“Pronto!
Temos um Dia Mundial!
Não é preciso ser todos os Dias…basta este!”
Eu sei que a data não foi escolhida e instituída para se pensar nisso só nesta altura…
Mas, sinceramente, eu preferia que não houvesse um dia específico e TODOS os dias serem Dias das Crianças…ou das Mulheres… ou do Idoso…
Que se faz nesse Dia Mundial da Criança?
Brinca-se!
E para quando pensar a sério nas necessidades da Criança?
Uma Criança não precisa que lhe digam como brincar! Ela inventa brincadeiras, faz experimentações, tenta descobrir as suas capacidades de uma forma lúdica…
A Criança precisa de Regras com Carinho… de Liberdade com Atenção… de Orientação com Amor… que lhe dêem o necessário para crescer com Saúde mas sem esbanjamento em produtos desnecessários…
Quantas vezes se lhes dá uma alimentação deficiente e depois se lhe oferece um telemóvel?
Quantas vezes lhes falta o agasalho, mas se lhes oferece um Game Boy?
Pois é! …
Neste Dia Mundial da Criança, vamos repensar a nossa atitude para com… as Crianças!


Ser Criança


Ser criança é ser flor
É ter asas p'ra voar
É querer abraçar o mundo
É ter amor para dar
Saber sofrer e sorrir
Quando não nos dão a mão
É querer subir a colina
Mesmo arrastando p'lo chão

É querer saber mais e mais
Conhecer o desconhecido
É pedir ajuda e amor
É ter junto de si, um amigo
Precisar de compreensão
Para aprender e brincar
É ter alguém a seu lado
Para viver e sonhar

É viver em amizade
Neste mundo de ingratidão
É querer mostrar aos homens
O tamanho do seu coração
Mas...
Criança também cresce
E Homem se vai tornar
E os sentimentos bons
Vai tentar ignorar...

É esse o mal deste Mundo
Onde há tanta desilusão
É que o Homem adulto
Esquece a Criança de então!

Letinha

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Quem paga a conta?



Quem paga a conta?


Por ilógico que possa parecer, neste país quem paga a conta é quem tem menos...


Menos dinheiro...

Menos saúde...

Menos cara-de-pau...


Parece ser costume das entidades bancárias cobrar uma taxa de manutenção de conta a quem tiver um movimento inferior a 1.000€ de 3 em 3 meses! (informações de uma das entidades bancárias que populam neste país). E não cobram tão pouco como isso!

Ora vamos lá colocar a "massa cinzenta" a funcionar...


Um reformado, com uma pensão de 240/250€ por mês, como faz para se livrar da tal taxa?

Ao fim de 3 meses, e não gastando absolutamente nada, o máximo que consegue é lá ter na sua conta 750€....e como tem menos de 1.000€ em movimento ou em saldo...zás! "come" com uma taxa que varia entre 10€ e 15€!


Assim nunca mais lá vamos!

Com a lógica de tirar aos pobres para dar aos ricos, estamos...bem fo...rnecidos!

Não teria mais lógica cobrar a referida taxa a quem tivesse um saldo POSITIVO de 1000€ de 3 em 3 meses??? Para esses, pouca diferença fazia o pagamento da tal taxa...

Pois... lógica até tinha....mas as cobranças deviam resumir-se a meia dúzia de grandes senhores, a uma centena de nababos... e pouco mais!

Além disso, seriam abrangidos aqueles que fazem as Leis...mas eles não são estúpidos!


Coitado de quem tem pouco...

Outro dia, dentro de uma entidade bancária, assisti à revolta muito justa de um aposentado, que afirmava continuar a ser ROUBADO!

E dizia ele: ROUBARAM-ME TUDO EM 1974, QUANDO TIVE DE ABANDONAR UMA VIDA DE TRABALHO; EM MOÇAMBIQUE!

ROUBAM-ME AGORA, POIS DE UMA PENSÃO DE 250€, AINDA ME TIRAM 13,50€ PARA MANUTENÇÂO DA CONTA! SE PARA VOCÊS ESSE DINHEIRO EQUIVALE AO PEQUENO-ALMOÇO, PARA MIM TEM DE ME ALIMENTAR UMA SEMANA!


Perante este grito tão justo, que se pode fazer?

Apenas delatar estas situações de "roubo legal"... sem punição, para que as ditas entidades apresentem lucros fabulosos no final do ano...enquanto a maioria do Povo deste País tem que viver durante um ano, com a mesma verba que os "senhores" gastam num almoço!


A "Liberdade" e a "Democracia" em todo o seu "esplendor"!

Começou em 1974 e ainda não acabou!


Letinha

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Combustíveis!



Combustíveis


Que se passa neste País?

Como é possível pagarmos o preço da gasolina, gasóleo e derivados ao preço exorbitante que pagamos?

Começo por esclarecer que...

Não sou Economista

Não gosto muito de percorrer os meandros da Economia

Sou apenas uma cidadã do País que necessita de se deslocar... de carro!

Sou apenas mais uma que tem de..pagar para ir trabalhar!

Eu explico:


Quando os nossos governantes são eleitos, se residirem fora de Lisboa e arranjarem uma casa dentro da sua área de trabalho... é-lhe concedido subsídio de renda de casa.

Quando os nossos governantes precisam de se deslocar, arranjam sempre maneira de... ser em serviço. Quem paga as deslocações? O bolso de todos nós!


Agora, dou-vos, por exemplo...um professor!

Um professor neste país, temos de ser honestos, ganha um pouco acima da média do resto dos trabalhadores.

Pode dizer-se que pertence à Classe Média!

Mas...

Será que pertence?


Dando exemplos que conheço:

Um professor que resida na Covilhã, distrito de Castelo Branco e fique colocado por 3 anos na Escola da Sertã (também no distrito de Castelo Branco), para se apresentar no local de trabalho dentro do horário, tem duas hipoteses:

1ª Hipotese - Aluga um quarto ou casa na Sertã e muda a sua residência para lá!

Custo - Renda de casa 300/400€

2ª Hipotese - Mantém-se na sua residência de família (os professores TÊM família), onde cria os filhos, convive com a esposa/o e desloca-se TODOS os dias cerca de 220/230km! Tem de sair de casa por volta das 6 da manhã, regressa a casa (muitas vezes) por volta das 22horas, para no dia seguinte fazer o mesmo percurso e o mesmo horário...

Custo - Preço da gasolina s/chumbo 95 - 1,45€/l

Preço do gasóleo - 1,33€/l

Consumo de um veículo aos 100km - média 6/7 litro

Gasóleo - 1,33€x7 = 9,31 Total da viagem/dia = 19/20€/dia

Gasolina - 1,45 x 7= 10,15€ Total da viagem/dia = 23/24€dia

Quanto gastará ao fim de 22 dias úteis de trabalho?

1ª modalidade - Gasóleo - 20€x 22 dias = 440€ (cerca de 88.000$00)

2ª modalidade -Gasolina - 24€x 22 dias =528€(cerca de 105.600$00)


Sem contar com o desgaste do veículo....


Podem pensar... E os transportes públicos?

Bem... no interior do país, os transportes públicos resumem-se à Rodoviária e...Combóio (nas vilas onde passa a linha férrea, o que não é o caso da Sertã)

E os horários dos transportes rodoviários, não coincidem com os horários de trabalho do professor.... portanto...fora de hipótese!

Feitas estas contas por alto, sai mais económico alugar uma casa e ficar por cá...mas...que faz aos filhos e esposa/o?

Metade do seu vencimento vai para pagar a deslocação! E sem subsídio de deslocação, ou com outro qualquer nome!

Ora se metade do seu vencimento se gasta ao deslocar-se para a sua área de trabalho, acaba por ficar em situação financeira igual à... Classe Baixa deste país!

E tudo por causa da...subida dos Combustíveis!



sexta-feira, 16 de maio de 2008

Vitória



Vitória


Nasceu em Salazar, hoje Dalantando, em 1960.

Seu nome completo era Maria Vitória Mateus Gongo, nome que nunca mais esqueci...

Não tinha pai e sua mãe, com muitos filhos para criar, mandou-a para Luanda aos 10 anos, na companhia de uma irmã mais velha, para servir como ama do bebé, a um casal jovem, de ascendência africana, que residiam no mesmo prédio que eu, na Rua Coronel Artur de Paiva, n.º 111, no mesmo andar, o 4º, e no apartamento ao lado.

Foi aí que a conheci.

Miúda esperta, com uns olhos vivos e curiosos, vestida com um kimono e calções, magra talvez pela idade de crescimento e alimentação reduzida mas de uma beleza que atraía.

Comecei a falar com ela, quando nos cruzávamos, ela embalando o menino, eu carregando os livros. Foi nestas conversas que fiquei a saber o grande desejo de aprender a ler e escrever... de frequentar a Escola... de saber mais...

Mas não podia! Tinha de tomar conta do "minino"!

Ela, uma menina também, com apenas 10 anos, e já com a responsabilidade de uma criança!

Um dia, chegando a casa com a minha mãe, encontrei a Vitória nas escadas do prédio chorando.

Tentando resolver aquela aflição, perguntei porque chorava:

-Minina, eu tem fome! Mi dói a barriga de tanto roncar!

Revolta da minha parte... solução da parte da minha mãe!

Levámos a Vitória para nossa casa e servimos-lhe um prato de sopa... conversámos... comeu parte do nosso jantar (que tinha sobrado do almoço)... e continuámos a conversar...

A partir desse dia era na minha casa que Vitória se alimentava...

A patroa, ao ver tanta familiaridade, resolveu informar a minha mãe que ela era... uma ladra! Tinha que trancar a geleira pois a Vitória roubava... comida!


Passava muito tempo em nossa casa... aprendendo. Ensinámo-la a ler e a escrever... a fazer contas (as 4 operações), mas a sua paixão era a leitura...todo o tempo disponível que tinha era para ler os livros que eu lhe emprestava...

Um dia aparece a chorar, pois a patroa ia embora e ela tinha de ir também...

Perguntámos-lhe se queria ir e ela, com os olhos chorosos disse que não...não queria mais passar fome nem queria deixar de aprender coisas novas!

Então fomos falar com a patroa... propusemos tomar conta da Vitória, pagar-lhe uma mensalidade pelo trabalho doméstico que ela pudesse fazer em nossa casa, ensinar-lhe corte e costura ("profissão" da minha mãe) e a continuar a ler e a aprender tudo o que pudesse...

E assim foi... ganhei uma "irmã" mais nova que dormia no meu quarto e que comia à nossa mesa.

Ainda pensámos em matriculá-la numa Escola mas... a Vitória "não existia"... ou seja não estava registada, não tinha documento algum...

Sem o apoio da família, era difícil fazer alguma coisa...

Mas assim como era tratada já ela estava bem contente...

A Vitória cresceu!

Esteve em minha casa de 1970 a 1975...

Tornou-se uma linda rapariga de beleza rara, corpo de sereia e alegria de gazela...

1975!

Malfadado ano que nos obrigou a abandonar o que mais gostávamos...

Quando, por via das circunstâncias, nos viemos embora, fizemos questão de lhe deixar tudo o que até então fazia parte dos nossos bens....mobiliário, electrodomésticos e até os angolares que não nos deixaram trazer...tudo descrito num documento assinado e reconhecido em notário (não sei se terá servido, pois o caos era muito).

Como chorámos, ela e nós, deste afastamento que, apesar das promessas, sabíamos ser um ADEUS para sempre...

Vitória... a nossa Vitória... por onde andará a linda menina de olhos vivos e curiosos...



... Outra história - continuação



Técnicas de Observação Directa


Lá em casa consumia-se o chamado "pão de quilo", assim denominado por ter sensivelmente esse peso. Era um pão grande e com muito miolo, que eu tirava metendo a minha pequena mão dentro do pão e deixando-o todo esburacado.

Os adultos, ao dar pelo pão ratado, pensaram mesmo que havia ratos em casa, pelo que armaram ratoeiras em todas as divisões, nos sítios mais incríveis... debaixo das camas, em cima dos armários... até na casa de banho havia ratoeiras!

Eu sabia, pois com medo que fosse lá mexer, tinham-me avisado do perigo que era mexer naquelas coisas...

Mas o grande prejudicado por esta "fobia aos ratos" foi o nosso...gato!

A minha avó "cortou-lhe" a ração diária, pois dizia que o bichano, com fome, iria caçar o/os rato/os que nos "comiam" o pão.

Até que um dia...


Nesse dia, minha mãe topou que eu saía, sorrateira, da cozinha com as mãos escondidas nos bolsos do bibe.

Sem dizer nada, seguiu-me até à varanda onde observou a cena. Com as mãos cheias de miolo de pão, distribuia o mesmo pela minha boca e... pelas rolas, que naquela altura já esperavam a minha visita como sendo da "família"...

Com este estratagema, consegui assistir à postura dos ovos, à forma de chocar os ditos (para mim, a rola tinha adoecido pois não saía do ninho) e... ao aparecimento de umas "aves feias", cheias de penugem molhada, mas com aparência de... rolas!

"Pronto!" - pensei eu - aqui está a maneira que aparecem os filhos! Mas não vou dizer nada a ninguém... se não querem que eu saiba, também não lhes vou dizer que sei!


O tempo passou...

Como já referi, eu fui filha única, neta única e sobrinha única durante toda a minha infância...e isso trazia uma pequena "guerra" para ver com quem a menina ia passar férias!

Numa dessas estadias em casa dos tios, desatei a chorar com saudades da minha mãe...

A minha tia tentou animar-me dizendo que gostava muito de mim, que eu era a "menina" dela pois não tinha filhos....

Ao que eu prontamente respondi:

- Não tens filhos porque não queres!

Espanto!

- Não quero? - perguntou a minha tia - Porque dizes isso?

- Pensas que eu não sei? - respondi eu - Eu vi como fizeram as rolas!...Puseram ovos e nasceram rolinhos... Põe tu também um ovo!

A minha tia desfazia-se em gargalhadas... e continuou perguntando porque é que a minha outra tia não tinha filhos também...

Essa minha tia, senhora muito magra e com uma anemia crónica, costumava ingerir ovos... crus, pois dizia-se que fortalecia e combatia a anemia....

Quando respondi àquela pergunta maldosa, as gargalhadas redobraram, pois para a minha lógica essa minha tia punha os ovos e... comia-os!


Sempre fui muito curiosa e quando as respostas às minhas perguntas não me "agradavam" procurava saber a verdade....mesmo criando "erros graves" na minha cabeça!

... Outra história ...



A Descoberta da Vida!


Quando tinha os meus 3/4 anos, comecei a fazer "perguntas difíceis" aos meus pais, avós e tios.

"De onde vêm os bebés?"

"Como é que as mães têm os filhos?"

E coisas deste género....

Como é de prever, as respostas que me davam (e sempre me deram respostas), não coincidiam com a minha lógica...


Resposta da minha mãe:

"Uma cegonha trouxe-te no bico e deixou-te na varanda, dentro de um cestinho"

Ora, eu não via cegonhas a passear nos céus de Lisboa...e quase todos os dias me diziam que fulano ou sicrano tinham um bebé!


Resposta do meu pai:

"Telefonei para França e mandaram-te dentro de uma encomenda"

Mentiroso! (pensava eu!). Se eu viesse de França, falava aquela língua esquisita que o tio Domingos estava sempre a dizer...e se viesse dentro de uma encomenda, como é que eu respirava? Além disso, a minha mãe disse de outra maneira que não bate certo com esta.


Resposta dos meus avós:

"Vieste dentro de uma couve"

Cada vez me convencia mais que estava rodeada de "mentirosos", que só me queriam "enganar"... Como poderia ter vindo dentro da couve?


Resposta dos tios:

"Deixaram-te à porta de casa, num cestinho"

Ora bem! - pensava eu - Por aqui não sei a verdade!

Como devo ter nascido com o genes da pesquisa muito desenvolvido, decidi procurar...sozinha!


O meu avô paterno criava, numa linda e grande gaiola feita por ele, rolas da Índia.

Como me ensinaram que as rolas eram seres vivos, decidi observar como apareciam os filhotes.

Durante meses, foi a minha ocupação!


terça-feira, 13 de maio de 2008

A minha mãe!



A minha Mãe!


Tenho aqui descrito alguns dos personagens que me ensinaram a caminhar na Vida...

O meu pai, homem divertido e bem disposto...

O meu avô...homem sábio, na sua sabedoria de Vida, sério, sereno e com uma paciência incrível...


A minha mãe...ah! a minha mãe...


Não concebo a palavra Alegria sem a associar à minha mãe!

Nascida no Rosmaninhal, filha de Aleixo Lobato Pina, cabo da Guarda Fiscal (chefe do Posto fronteiriço de Segura) e de Aurora Barata Pereira, senhora com uma instrução muito boa (para a época) e Valores morais excelentes.

Foi deste casal que nasceu minha mãe. Tinha um irmão mais velho que era o seu Amigo e confidente.

Criada numa vila do Interior , frequentou a Escola com a ideia de seguir os Estudos...boa aluna, aplicada, muita vontade de aprender mas... mulher!

Quando concluiu a antiga 4ª Classe, para continuar a sua Formação teria de sair da vila e ir viver para Castelo Branco. Minha avó dispôs-se a ir com ela, pois na altura, menina a viver sozinha era... bem...mal considerada!

Mas...

Meu avô não deixou... dizia que filha dele não saía de casa sem casar... que a mulher também não devia deixar o marido para ir viver em outra terra com os filhos...que se fosse para viver sozinho, ele não tinha casado!

Resultado:

Minha mãe apenas estudou até...à 4ª Classe, fez Exame com distinção e... ficou por aí!

Para que tivesse uma ocupação, meu avô deixou que frequentasse um Curso de Corte e Costura, que ela aproveitou muito bem, pois tinha mãos de fada!

Na casa era raínha... tudo o que fazia era com gosto e bem feito... uma cozinheira de "mão cheia", um gosto para decoração... uma noção de arrumação e ordem que por vezes me aborrecia pois era quase perfeccionista!

No meu Blog de Recordações em imagens, já coloquei alguns desenhos dela, e aí se percebe a perda que foi o não ter seguido Belas Artes.

Outra característica de minha mãe era... a voz!

Tinha uma voz melodiosa e clara e cantava todo o dia canções que me deliciavam.

Foi com ela que aprendi a gostar de música.

Ainda me lembro de me sentar no seu colo e pedir-lhe para cantar.

Com uma alma alegre e divertida, era a alegria da casa.

Mesmo doente e internada, era ela que animava as outras doentes com o seu espírito vivo e muito activo...

Era a minha confidente... podia contar-lhe tudo, pois escutava-me sem ralhos ou zangas...apenas conselhos e soluções.

Posso dizer sem errar que fui uma criança muito feliz, rodeada de pessoas lindas e que, acima de tudo, me ensinaram a viver com Alegria, apreciando as boas coisas da Vida.


Minha querida mãe...vou sempre precisar de ti!

Que Saudades eu tenho de ouvir a tua voz, as tuas canções e o teu riso...


domingo, 11 de maio de 2008

O meu avô paterno!



O meu avô paterno


Muitas vezes me lembro deste meu avô... aliás, o único que conheci, pois o meu avô materno já tinha falecido.

Nasci na sua casa, em Lisboa e aí fui criada até aos 5/6 anos...

A sua profissão era Guarda Fiscal, no posto de Cabo, o que na altura tinha uma certa importância...

De estatura média, com cerca de 60 kg, era uma pessoa séria, honesta e respeitadora... um verdadeiro democrata!

Eu era a sua menina, única neta e sem outros netos, era comigo que passava o tempo de folga.

Lia e contava-me histórias que me deliciavam, levava-me ao Miradouro da Senhora do Monte que carinhosamente tínhamos baptizado do "Jardim da Celeste" e tinha a paciência para me aturar as brincadeiras de criança pequena.

Era o meu "confidente" de amuos e queixas e muitas vezes me defendeu perante castigos que considerava injustos.

Quando completei 4 anos, o meu avô achou que estava na hora de me ensinar a ler, talvez para se "ver livre" desta "chata" que todas as noites, pousava um livro em cima da mesa da cozinha e lhe dizia:

- Avô... Lê-me uma história!

Foi pelo meu gosto de histórias que ele me atraiu a atenção para a leitura...um dia propôs:

- E se eu te ensinasse a ler? Podias ler todas as tuas histórias sem estares à espera de mim!

E pronto! Estava desperto o interesse!

A partir daí, todas as noites o nosso livro era... a Cartilha Maternal de João de Deus. E a minha vontade era tanta... o professor tão competente e paciente, que em pouco mais de dois meses eu LIA!

Foram noites únicas!

Eu e o meu avô!

Sentados na cozinha, depois do jantar, ali estavam avô e neta, falando de tudo de uma forma lúdica... histórias, livros, astronomia, matemática...

Foi com ele que eu aprendi o nome das constelações e a identificá-las... nos nossos passeios, muitas vezes caminhávamos olhando o céu e localizando estrelas...não mais me esqueço da sensação de pequenez que sentia, ao olhar o negro firmamento e vendo brilhar, como pirilampos, aquelas estrelas com nomes esquisitos que meu avô sabia e que lentamente iam ficando na minha memória...

Foi com ele que eu aprendi o respeito à Natureza...

Nunca vi o meu avô zangado!

Bem... apenas uma vez e já eu tinha 8/9 anos!

Passou-se esta história na mesma altura que a "aventura do burro".

Na vila do Rosmaninhal era costume fazerem-se promessas aos Santos mas sem o desgate físico de uma caminhada. Quando alguém era atendido num pedido, prometia fazer uma "doação de x alqueires de trigo em bicas"

A bica era um pão com a forma de paposseco, que se distribuía à portas das oradas onde se tinha feito o pedido.

Uma das minhas amigas da brincadeira chegou um dia ao pé de mim e disse-me:

- Estão a dar bicas no S. Roque...vamos lá?

E eu, sem saber muito bem o que era, fui!

A fila de adultos e crianças era grande e nós lá esperámos pela nossa vez.

Quando estava para receber o tal pãozito, aparece o meu avô na curva da estrada...olha para mim e, sem dizer uma palavra, aponta o caminho de casa.

Saí da fila e acompanhei-o (sem ter recebido o tal pão).

Dessa vez... vi-o muito zangado comigo!

Dizia (e com razão) que eu não tinha necessidade de esmolar um paposseco!

Que aquele pão era para as pessoas que não tinham comida em casa e que eu estava a "tirar" da boca de algum garoto uma coisa que eu não precisava...

Que sermão!

Não me bateu, não me pôs de castigo... apenas me fez sentir a pior das pessoas...

Meu querido avô...

Ainda hoje eu sigo muitas das tuas lições...

O meu avô faleceu em minha casa, no ano de 1982.




quinta-feira, 8 de maio de 2008

Uma história...







Uma história...









Iniciei um novo trabalho, num novo espaço... tem como título "Trabalho...Inacabado".

É um espaço dedicado a textos do meu Pai, natural de uma vila perto da raia de Espanha, onde eu ia passar férias!

E recordando algumas histórias por mim passadas, venho aqui contar uma...


Era Verão...
Talvez o ano de 1961/62...
Sei que foi numa época em que, eu e minha mãe, estávamos em Portugal pois tínhamos fugido da guerra em Angola. Meu pai ficou em Luanda e pôs a salvo a sua grande riqueza... a mulher e a filha!

Mas contava eu... era Verão...

Como criança ainda, passava férias no Rosmaninhal, em casa dos meus avós paternos... muitos dias na casa da minha avó materna, senhora viúva e com uma paciência enorme.
Adorava tudo o que se relacionasse com a vida do campo... e como criança curiosa, não pude resistir quando, um dia, uma prima da mesma idade, filha de uns tios-avós pastores, me desafiou para ir com ela para o campo.
Consegui convencer o meu avô e a minha mãe a deixar-me ir...montada num burro ainda novo, com a promessa de estar em casa ao anoitecer...
As duas (eu e minha prima) íamos felizes que nem pássaros numa eira!
A cabana onde os meus tios avós estavam, distava cerca de 6/7 km da vila...
A meio do caminho achámos que o burro era "lento" e que o poderíamos fazer correr como se de um cavalo se tratasse.
Assim, começámos a zurzir o pobre animal que ao princípio não nos ligava nenhuma...Batemos no pescoço, nas ilhargas, no lombo e... Nada!
Com o mesmo passo miúdo e apressado, lá ia o burrico sem acelerar!
Montada na albarda (espécie de sela larga, sem estribo, para animais de trabalho) decidi que o animal não podia ser mais teimoso que eu...criança de 8/9 anos.
Peguei num pau que saía de um alforge e ...zás!
Uma grande paulada na trazeira do burro!
O bicho deu um pinote tal, que as duas fomos parar ao chão...
E não contente com o ter feito desmontar estas cavaleiras "violentas", desatou a fugir pelo campo fora, aos saltos, coices e... zurros!
Ainda a esfregar os trazeiros, estas duas crianças (a minha prima teria na altura 10 anos) tentaram apanhar o burro, pois não podíamos aparecer sem o animal...
Que esforço!
E que corridas!
Uma pela esquerda, outra pela direita, tentávamos aproximarmo-nos de forma a pegar na corda que lhe pendia da cabeçada!
O asno (que de asno não tinha nada!) parecia não se aperceber da nossa aproximação mas... quando alçavamos a mão para a corda, lá fugia ele, campo fora, zurrando como se estivesse a rir de nós!

E assim passámos uma tarde...correndo atrás de um burro...

Ao anoitecer, lá chegámos á cabana dos meus tios-avós, num estado lamentável, sujas, chorosas, arranhadas e ... sem o burro!
Uma das coisas que sempre admirei nos membros da minha família, foi a paciência que demonstravam em relação aos mais novos...

O meu tio-avô João, muito divertido, informou-nos que o burro... esse animal "bravio e selvagem" já há muito que estava no curral a descansar... e que a nossa aventura teria sido escusada, pois o animal voltaria a casa, não havendo a necessidade de correr atrás dele...

Depois de "tentar" tirar a maior parte da sujeira, num caldeiro cheio de água do poço, comi o melhor manjar da minha vida...pão caseiro, acabado de sair do forno, leite de cabra acabado de ordenhar (e ainda à temperatura do corpo) e um naco de queijo, feito de forma tradicional, com um sabor ...fantástico!
Depois... bem, depois houve necessidade de me levarem á vila, pois a promessa feita à minha mãe era para cumprir!
Como a noite já ia alta (deviam ser perto das 11 da noite) o meu tio decidiu ir "entregar-me" e explicar a nossa aventura!

Que saudades desse tempo em que corria no campo, atrás de um burro teimoso e... "selvagem"!


Letinha