A Prosa ...da Vida!

Não escrevo só poemas...
Também nem todos os textos serão meus!
Irei aqui deixar-vos percorrer textos, mensagens e vivências de Meu Pai!
Meu Pai!
Um filósofo anónimo, dos muitos que há neste Povo, e que são esquecidos, ignorados e muitas vezes humilhados por aqueles que...nada sabem!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

... Outra história - continuação



Técnicas de Observação Directa


Lá em casa consumia-se o chamado "pão de quilo", assim denominado por ter sensivelmente esse peso. Era um pão grande e com muito miolo, que eu tirava metendo a minha pequena mão dentro do pão e deixando-o todo esburacado.

Os adultos, ao dar pelo pão ratado, pensaram mesmo que havia ratos em casa, pelo que armaram ratoeiras em todas as divisões, nos sítios mais incríveis... debaixo das camas, em cima dos armários... até na casa de banho havia ratoeiras!

Eu sabia, pois com medo que fosse lá mexer, tinham-me avisado do perigo que era mexer naquelas coisas...

Mas o grande prejudicado por esta "fobia aos ratos" foi o nosso...gato!

A minha avó "cortou-lhe" a ração diária, pois dizia que o bichano, com fome, iria caçar o/os rato/os que nos "comiam" o pão.

Até que um dia...


Nesse dia, minha mãe topou que eu saía, sorrateira, da cozinha com as mãos escondidas nos bolsos do bibe.

Sem dizer nada, seguiu-me até à varanda onde observou a cena. Com as mãos cheias de miolo de pão, distribuia o mesmo pela minha boca e... pelas rolas, que naquela altura já esperavam a minha visita como sendo da "família"...

Com este estratagema, consegui assistir à postura dos ovos, à forma de chocar os ditos (para mim, a rola tinha adoecido pois não saía do ninho) e... ao aparecimento de umas "aves feias", cheias de penugem molhada, mas com aparência de... rolas!

"Pronto!" - pensei eu - aqui está a maneira que aparecem os filhos! Mas não vou dizer nada a ninguém... se não querem que eu saiba, também não lhes vou dizer que sei!


O tempo passou...

Como já referi, eu fui filha única, neta única e sobrinha única durante toda a minha infância...e isso trazia uma pequena "guerra" para ver com quem a menina ia passar férias!

Numa dessas estadias em casa dos tios, desatei a chorar com saudades da minha mãe...

A minha tia tentou animar-me dizendo que gostava muito de mim, que eu era a "menina" dela pois não tinha filhos....

Ao que eu prontamente respondi:

- Não tens filhos porque não queres!

Espanto!

- Não quero? - perguntou a minha tia - Porque dizes isso?

- Pensas que eu não sei? - respondi eu - Eu vi como fizeram as rolas!...Puseram ovos e nasceram rolinhos... Põe tu também um ovo!

A minha tia desfazia-se em gargalhadas... e continuou perguntando porque é que a minha outra tia não tinha filhos também...

Essa minha tia, senhora muito magra e com uma anemia crónica, costumava ingerir ovos... crus, pois dizia-se que fortalecia e combatia a anemia....

Quando respondi àquela pergunta maldosa, as gargalhadas redobraram, pois para a minha lógica essa minha tia punha os ovos e... comia-os!


Sempre fui muito curiosa e quando as respostas às minhas perguntas não me "agradavam" procurava saber a verdade....mesmo criando "erros graves" na minha cabeça!

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