A Prosa ...da Vida!

Não escrevo só poemas...
Também nem todos os textos serão meus!
Irei aqui deixar-vos percorrer textos, mensagens e vivências de Meu Pai!
Meu Pai!
Um filósofo anónimo, dos muitos que há neste Povo, e que são esquecidos, ignorados e muitas vezes humilhados por aqueles que...nada sabem!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Uma história...







Uma história...









Iniciei um novo trabalho, num novo espaço... tem como título "Trabalho...Inacabado".

É um espaço dedicado a textos do meu Pai, natural de uma vila perto da raia de Espanha, onde eu ia passar férias!

E recordando algumas histórias por mim passadas, venho aqui contar uma...


Era Verão...
Talvez o ano de 1961/62...
Sei que foi numa época em que, eu e minha mãe, estávamos em Portugal pois tínhamos fugido da guerra em Angola. Meu pai ficou em Luanda e pôs a salvo a sua grande riqueza... a mulher e a filha!

Mas contava eu... era Verão...

Como criança ainda, passava férias no Rosmaninhal, em casa dos meus avós paternos... muitos dias na casa da minha avó materna, senhora viúva e com uma paciência enorme.
Adorava tudo o que se relacionasse com a vida do campo... e como criança curiosa, não pude resistir quando, um dia, uma prima da mesma idade, filha de uns tios-avós pastores, me desafiou para ir com ela para o campo.
Consegui convencer o meu avô e a minha mãe a deixar-me ir...montada num burro ainda novo, com a promessa de estar em casa ao anoitecer...
As duas (eu e minha prima) íamos felizes que nem pássaros numa eira!
A cabana onde os meus tios avós estavam, distava cerca de 6/7 km da vila...
A meio do caminho achámos que o burro era "lento" e que o poderíamos fazer correr como se de um cavalo se tratasse.
Assim, começámos a zurzir o pobre animal que ao princípio não nos ligava nenhuma...Batemos no pescoço, nas ilhargas, no lombo e... Nada!
Com o mesmo passo miúdo e apressado, lá ia o burrico sem acelerar!
Montada na albarda (espécie de sela larga, sem estribo, para animais de trabalho) decidi que o animal não podia ser mais teimoso que eu...criança de 8/9 anos.
Peguei num pau que saía de um alforge e ...zás!
Uma grande paulada na trazeira do burro!
O bicho deu um pinote tal, que as duas fomos parar ao chão...
E não contente com o ter feito desmontar estas cavaleiras "violentas", desatou a fugir pelo campo fora, aos saltos, coices e... zurros!
Ainda a esfregar os trazeiros, estas duas crianças (a minha prima teria na altura 10 anos) tentaram apanhar o burro, pois não podíamos aparecer sem o animal...
Que esforço!
E que corridas!
Uma pela esquerda, outra pela direita, tentávamos aproximarmo-nos de forma a pegar na corda que lhe pendia da cabeçada!
O asno (que de asno não tinha nada!) parecia não se aperceber da nossa aproximação mas... quando alçavamos a mão para a corda, lá fugia ele, campo fora, zurrando como se estivesse a rir de nós!

E assim passámos uma tarde...correndo atrás de um burro...

Ao anoitecer, lá chegámos á cabana dos meus tios-avós, num estado lamentável, sujas, chorosas, arranhadas e ... sem o burro!
Uma das coisas que sempre admirei nos membros da minha família, foi a paciência que demonstravam em relação aos mais novos...

O meu tio-avô João, muito divertido, informou-nos que o burro... esse animal "bravio e selvagem" já há muito que estava no curral a descansar... e que a nossa aventura teria sido escusada, pois o animal voltaria a casa, não havendo a necessidade de correr atrás dele...

Depois de "tentar" tirar a maior parte da sujeira, num caldeiro cheio de água do poço, comi o melhor manjar da minha vida...pão caseiro, acabado de sair do forno, leite de cabra acabado de ordenhar (e ainda à temperatura do corpo) e um naco de queijo, feito de forma tradicional, com um sabor ...fantástico!
Depois... bem, depois houve necessidade de me levarem á vila, pois a promessa feita à minha mãe era para cumprir!
Como a noite já ia alta (deviam ser perto das 11 da noite) o meu tio decidiu ir "entregar-me" e explicar a nossa aventura!

Que saudades desse tempo em que corria no campo, atrás de um burro teimoso e... "selvagem"!


Letinha






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