A Prosa ...da Vida!

Não escrevo só poemas...
Também nem todos os textos serão meus!
Irei aqui deixar-vos percorrer textos, mensagens e vivências de Meu Pai!
Meu Pai!
Um filósofo anónimo, dos muitos que há neste Povo, e que são esquecidos, ignorados e muitas vezes humilhados por aqueles que...nada sabem!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Histórias...

Histórias....

Sou uma pessoa muito prática!
Apesar de "brincar" com as palavras, toda a minha poesia é baseada em factos reais, sentidos e vividos.

Ao fim de 32 anos de carreira docente, tenho imensas histórias reais para contar!
As crianças têm uma lógica impressionante!
E vou deixar aqui uma das muitas histórias que me aconteceram!

Chegada de Angola em 1975, com o Diploma na mala e muita revolta na alma, fui colocada na vila da Sertã em Janeiro de 1976, onde me entregaram uma turma do 2º ano (antiga 2ª classe).
Apresentaram-me à turma e eu comecei nesse dia a minha actividade de professora!
Durante a 1ª semana, tudo correu bem... só havia um aluno que nunca mais apareceu! O Mário!
O Mário era uma criança que, após as aulas, ia pastorear o gado para uns terrenos baldios junto à vila. Como, ao fim de duas semanas continuava sem aparecer na Escola, resolvi comunicar o facto ao Delegado Escolar, homem já de idade e muito conhecedor da região.
Disse-me para ficar descansada, que ele iria averiguar o que se passava com o Mário!
Dois dias depois, entra pela sala de aulas o Sr. Delegado...com o Mário pelas orelhas!
Perguntei ao rapaz o que lhe tinha feito (não me dera oportunidade para fazer nada!) para que não quisesse vir às minhas aulas....
Resposta do aluno:
"Quero uma professora branca!...Não quero uma professora mulata!"

Esta frase, que nunca mais esqueci, revela bem o sentimento da população simples deste país em 1975/76, pelos chamados Retornados.
Para o garoto, a pele bronzeada de quem tinha vindo de África era sinónimo de...raça negra!

Letinha

Sem comentários: