A Prosa ...da Vida!

Não escrevo só poemas...
Também nem todos os textos serão meus!
Irei aqui deixar-vos percorrer textos, mensagens e vivências de Meu Pai!
Meu Pai!
Um filósofo anónimo, dos muitos que há neste Povo, e que são esquecidos, ignorados e muitas vezes humilhados por aqueles que...nada sabem!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Por do Sol

Mais um texto, carregado de Saudade e que nos transporta par um Tempo onde a admiração pela Natureza fazia parte da nossa vida!

O Diário de meu pai tem coisas surpreendentes!


"Um Passeio"
16/05/62

Saímos de Luanda por volta das 9 horas.

O calor já se fazia sentir. Por volta das 10 horas passámos por Catete, que dista 60 km da capital, sempre por uma boa estrada. Depois de duas horas de marcha (12 horas), para que o estomago não nos atormentasse mais, almoçámos em Zenza do Itombe, que dista de Luanda 126 km. Quarenta e cinco minutos foi o tempo suficiente para que, regado com bom vinho, o apetitoso almoço chegasse ao fim.

Novamente em viagem, pois tínhamos ainda 244 km a percorrer e a maior parte do percursos por péssima "picada", pois que não se pode chamar estrada a um caminho de carro de bois, como se diz no "puto". Depois de Cassoalala, aparece-nos a vila do Dondo, que é banhada pelas águas do rio Quanza, onde se fez uma paragem de pouca demora, o tempo suficiente para tomar uma Cuca fresca, pois que a garganta e o organismo já algum tempo nos pedia uma bebida gelada que nos matasse a sede.

Havia seis horas de viagem... Às 15 horas, novamente em marcha, direitos a Salazar, passando por Dange-iá- Menha. "Dalantando" era o antigo nome de Salazar. O significado de Dalantando, por sinal pouco atraente, (cobra sobre pedra), vem porque as suas condições antigas serem pouco salubres. Mas temos que seguir...São 18 horas...

O sol, que até agora nos atormentava com os seus raios quentes, cobre as grandes ramadas das árvores, como que querendo descansar naquele "colchão" verde e abundante. Ao longe notam-se umas queimadas naquele capim alto. Mais para além, uma fita vermelha indicando a estrada que seguimos e que parece tocar o céu, perdendo-se para lá...

Escuta-se o lindo canto das aves, que parecem querer saudar-nos. Para lá daquele mato, quantos animais selvagens? Não se sabe. Só os macacos nos dão o aviso do perigo. Mas para lá daquele mato não há guerra. Não se guerreia como os homens. Só há luta, quando apertados pela fome. Então, o mais fraco terá de ser repasto do mais forte.

O camião seguia em marcha reduzida, devido à estrada. É este, apesar do calor, o melhor tempo para viajar em Angola, o "cacimbo", pois haverá mais segurança para a circulação dos veículos. No entanto, a Natureza reveste-se de maior esplendor, proporcionando paisagens deslumbrantes no tempo das "chuvas".

O pôr-do-sol começa, banhando tudo com uma cor vermelho sanguíneo. Os grandes imbomdeiros lançavam sombras, que mais pareciam teias de aranha de grande tamanho. Ao volante do pesado camião, o grande amigo Justino, de Malange, sempre bem disposto.

A ele eu agradeço o, pela primeira vez, ter visto o pôr-do-sol no mato de Angola.

Magnífico!...

Maravilhoso!...

Deslumbrante!...

(texto encontrado no Diário de A . Torres)

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