A Prosa ...da Vida!

Não escrevo só poemas...
Também nem todos os textos serão meus!
Irei aqui deixar-vos percorrer textos, mensagens e vivências de Meu Pai!
Meu Pai!
Um filósofo anónimo, dos muitos que há neste Povo, e que são esquecidos, ignorados e muitas vezes humilhados por aqueles que...nada sabem!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Euro 2008



Euro 2008




Pois é!




Portugal venceu o 1º jogo contra a Turquia!


Parabéns à nossa Selecção e a todos nós por sermos portugueses!


Mas...


Será que não há nada mais importante para falar???


Esta coisa da Selecção já começa a cansar...


Os telejornais abrem e fecham com os "nossos heróis" (muito bem pagos)... até o que comem, o que fazem, quando saem...enfim.. tudo serve de notícia!


Mas dá-se pouca importância ao preço do combustível... não se entrevistam os dirigentes deste país para saber... o Povo exige saber... o que tencionam fazer sobre o assunto!

Não se fala sobre as greves que, com o prejuízo de todos nós mas com a razão pela luta iniciada, populam por este país... por esta Europa...


Continuamos a ser o País dos 2 (ou serão 3?) F's... Fado e Futebol!


Letinha

sábado, 31 de maio de 2008

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA



Dia Mundial da Criança



Vem aí mais um Dia Mundial da Criança!
Não que tenha nada contra esse ou outros Dias Mundiais!
Apenas me revolta a hipocrisia desta sociedade que elege um Dia Mundial para um determinado tema e, durante o resto do ano, se esquece do assunto!
“Pronto!
Temos um Dia Mundial!
Não é preciso ser todos os Dias…basta este!”
Eu sei que a data não foi escolhida e instituída para se pensar nisso só nesta altura…
Mas, sinceramente, eu preferia que não houvesse um dia específico e TODOS os dias serem Dias das Crianças…ou das Mulheres… ou do Idoso…
Que se faz nesse Dia Mundial da Criança?
Brinca-se!
E para quando pensar a sério nas necessidades da Criança?
Uma Criança não precisa que lhe digam como brincar! Ela inventa brincadeiras, faz experimentações, tenta descobrir as suas capacidades de uma forma lúdica…
A Criança precisa de Regras com Carinho… de Liberdade com Atenção… de Orientação com Amor… que lhe dêem o necessário para crescer com Saúde mas sem esbanjamento em produtos desnecessários…
Quantas vezes se lhes dá uma alimentação deficiente e depois se lhe oferece um telemóvel?
Quantas vezes lhes falta o agasalho, mas se lhes oferece um Game Boy?
Pois é! …
Neste Dia Mundial da Criança, vamos repensar a nossa atitude para com… as Crianças!


Ser Criança


Ser criança é ser flor
É ter asas p'ra voar
É querer abraçar o mundo
É ter amor para dar
Saber sofrer e sorrir
Quando não nos dão a mão
É querer subir a colina
Mesmo arrastando p'lo chão

É querer saber mais e mais
Conhecer o desconhecido
É pedir ajuda e amor
É ter junto de si, um amigo
Precisar de compreensão
Para aprender e brincar
É ter alguém a seu lado
Para viver e sonhar

É viver em amizade
Neste mundo de ingratidão
É querer mostrar aos homens
O tamanho do seu coração
Mas...
Criança também cresce
E Homem se vai tornar
E os sentimentos bons
Vai tentar ignorar...

É esse o mal deste Mundo
Onde há tanta desilusão
É que o Homem adulto
Esquece a Criança de então!

Letinha

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Quem paga a conta?



Quem paga a conta?


Por ilógico que possa parecer, neste país quem paga a conta é quem tem menos...


Menos dinheiro...

Menos saúde...

Menos cara-de-pau...


Parece ser costume das entidades bancárias cobrar uma taxa de manutenção de conta a quem tiver um movimento inferior a 1.000€ de 3 em 3 meses! (informações de uma das entidades bancárias que populam neste país). E não cobram tão pouco como isso!

Ora vamos lá colocar a "massa cinzenta" a funcionar...


Um reformado, com uma pensão de 240/250€ por mês, como faz para se livrar da tal taxa?

Ao fim de 3 meses, e não gastando absolutamente nada, o máximo que consegue é lá ter na sua conta 750€....e como tem menos de 1.000€ em movimento ou em saldo...zás! "come" com uma taxa que varia entre 10€ e 15€!


Assim nunca mais lá vamos!

Com a lógica de tirar aos pobres para dar aos ricos, estamos...bem fo...rnecidos!

Não teria mais lógica cobrar a referida taxa a quem tivesse um saldo POSITIVO de 1000€ de 3 em 3 meses??? Para esses, pouca diferença fazia o pagamento da tal taxa...

Pois... lógica até tinha....mas as cobranças deviam resumir-se a meia dúzia de grandes senhores, a uma centena de nababos... e pouco mais!

Além disso, seriam abrangidos aqueles que fazem as Leis...mas eles não são estúpidos!


Coitado de quem tem pouco...

Outro dia, dentro de uma entidade bancária, assisti à revolta muito justa de um aposentado, que afirmava continuar a ser ROUBADO!

E dizia ele: ROUBARAM-ME TUDO EM 1974, QUANDO TIVE DE ABANDONAR UMA VIDA DE TRABALHO; EM MOÇAMBIQUE!

ROUBAM-ME AGORA, POIS DE UMA PENSÃO DE 250€, AINDA ME TIRAM 13,50€ PARA MANUTENÇÂO DA CONTA! SE PARA VOCÊS ESSE DINHEIRO EQUIVALE AO PEQUENO-ALMOÇO, PARA MIM TEM DE ME ALIMENTAR UMA SEMANA!


Perante este grito tão justo, que se pode fazer?

Apenas delatar estas situações de "roubo legal"... sem punição, para que as ditas entidades apresentem lucros fabulosos no final do ano...enquanto a maioria do Povo deste País tem que viver durante um ano, com a mesma verba que os "senhores" gastam num almoço!


A "Liberdade" e a "Democracia" em todo o seu "esplendor"!

Começou em 1974 e ainda não acabou!


Letinha

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Combustíveis!



Combustíveis


Que se passa neste País?

Como é possível pagarmos o preço da gasolina, gasóleo e derivados ao preço exorbitante que pagamos?

Começo por esclarecer que...

Não sou Economista

Não gosto muito de percorrer os meandros da Economia

Sou apenas uma cidadã do País que necessita de se deslocar... de carro!

Sou apenas mais uma que tem de..pagar para ir trabalhar!

Eu explico:


Quando os nossos governantes são eleitos, se residirem fora de Lisboa e arranjarem uma casa dentro da sua área de trabalho... é-lhe concedido subsídio de renda de casa.

Quando os nossos governantes precisam de se deslocar, arranjam sempre maneira de... ser em serviço. Quem paga as deslocações? O bolso de todos nós!


Agora, dou-vos, por exemplo...um professor!

Um professor neste país, temos de ser honestos, ganha um pouco acima da média do resto dos trabalhadores.

Pode dizer-se que pertence à Classe Média!

Mas...

Será que pertence?


Dando exemplos que conheço:

Um professor que resida na Covilhã, distrito de Castelo Branco e fique colocado por 3 anos na Escola da Sertã (também no distrito de Castelo Branco), para se apresentar no local de trabalho dentro do horário, tem duas hipoteses:

1ª Hipotese - Aluga um quarto ou casa na Sertã e muda a sua residência para lá!

Custo - Renda de casa 300/400€

2ª Hipotese - Mantém-se na sua residência de família (os professores TÊM família), onde cria os filhos, convive com a esposa/o e desloca-se TODOS os dias cerca de 220/230km! Tem de sair de casa por volta das 6 da manhã, regressa a casa (muitas vezes) por volta das 22horas, para no dia seguinte fazer o mesmo percurso e o mesmo horário...

Custo - Preço da gasolina s/chumbo 95 - 1,45€/l

Preço do gasóleo - 1,33€/l

Consumo de um veículo aos 100km - média 6/7 litro

Gasóleo - 1,33€x7 = 9,31 Total da viagem/dia = 19/20€/dia

Gasolina - 1,45 x 7= 10,15€ Total da viagem/dia = 23/24€dia

Quanto gastará ao fim de 22 dias úteis de trabalho?

1ª modalidade - Gasóleo - 20€x 22 dias = 440€ (cerca de 88.000$00)

2ª modalidade -Gasolina - 24€x 22 dias =528€(cerca de 105.600$00)


Sem contar com o desgaste do veículo....


Podem pensar... E os transportes públicos?

Bem... no interior do país, os transportes públicos resumem-se à Rodoviária e...Combóio (nas vilas onde passa a linha férrea, o que não é o caso da Sertã)

E os horários dos transportes rodoviários, não coincidem com os horários de trabalho do professor.... portanto...fora de hipótese!

Feitas estas contas por alto, sai mais económico alugar uma casa e ficar por cá...mas...que faz aos filhos e esposa/o?

Metade do seu vencimento vai para pagar a deslocação! E sem subsídio de deslocação, ou com outro qualquer nome!

Ora se metade do seu vencimento se gasta ao deslocar-se para a sua área de trabalho, acaba por ficar em situação financeira igual à... Classe Baixa deste país!

E tudo por causa da...subida dos Combustíveis!



sexta-feira, 16 de maio de 2008

Vitória



Vitória


Nasceu em Salazar, hoje Dalantando, em 1960.

Seu nome completo era Maria Vitória Mateus Gongo, nome que nunca mais esqueci...

Não tinha pai e sua mãe, com muitos filhos para criar, mandou-a para Luanda aos 10 anos, na companhia de uma irmã mais velha, para servir como ama do bebé, a um casal jovem, de ascendência africana, que residiam no mesmo prédio que eu, na Rua Coronel Artur de Paiva, n.º 111, no mesmo andar, o 4º, e no apartamento ao lado.

Foi aí que a conheci.

Miúda esperta, com uns olhos vivos e curiosos, vestida com um kimono e calções, magra talvez pela idade de crescimento e alimentação reduzida mas de uma beleza que atraía.

Comecei a falar com ela, quando nos cruzávamos, ela embalando o menino, eu carregando os livros. Foi nestas conversas que fiquei a saber o grande desejo de aprender a ler e escrever... de frequentar a Escola... de saber mais...

Mas não podia! Tinha de tomar conta do "minino"!

Ela, uma menina também, com apenas 10 anos, e já com a responsabilidade de uma criança!

Um dia, chegando a casa com a minha mãe, encontrei a Vitória nas escadas do prédio chorando.

Tentando resolver aquela aflição, perguntei porque chorava:

-Minina, eu tem fome! Mi dói a barriga de tanto roncar!

Revolta da minha parte... solução da parte da minha mãe!

Levámos a Vitória para nossa casa e servimos-lhe um prato de sopa... conversámos... comeu parte do nosso jantar (que tinha sobrado do almoço)... e continuámos a conversar...

A partir desse dia era na minha casa que Vitória se alimentava...

A patroa, ao ver tanta familiaridade, resolveu informar a minha mãe que ela era... uma ladra! Tinha que trancar a geleira pois a Vitória roubava... comida!


Passava muito tempo em nossa casa... aprendendo. Ensinámo-la a ler e a escrever... a fazer contas (as 4 operações), mas a sua paixão era a leitura...todo o tempo disponível que tinha era para ler os livros que eu lhe emprestava...

Um dia aparece a chorar, pois a patroa ia embora e ela tinha de ir também...

Perguntámos-lhe se queria ir e ela, com os olhos chorosos disse que não...não queria mais passar fome nem queria deixar de aprender coisas novas!

Então fomos falar com a patroa... propusemos tomar conta da Vitória, pagar-lhe uma mensalidade pelo trabalho doméstico que ela pudesse fazer em nossa casa, ensinar-lhe corte e costura ("profissão" da minha mãe) e a continuar a ler e a aprender tudo o que pudesse...

E assim foi... ganhei uma "irmã" mais nova que dormia no meu quarto e que comia à nossa mesa.

Ainda pensámos em matriculá-la numa Escola mas... a Vitória "não existia"... ou seja não estava registada, não tinha documento algum...

Sem o apoio da família, era difícil fazer alguma coisa...

Mas assim como era tratada já ela estava bem contente...

A Vitória cresceu!

Esteve em minha casa de 1970 a 1975...

Tornou-se uma linda rapariga de beleza rara, corpo de sereia e alegria de gazela...

1975!

Malfadado ano que nos obrigou a abandonar o que mais gostávamos...

Quando, por via das circunstâncias, nos viemos embora, fizemos questão de lhe deixar tudo o que até então fazia parte dos nossos bens....mobiliário, electrodomésticos e até os angolares que não nos deixaram trazer...tudo descrito num documento assinado e reconhecido em notário (não sei se terá servido, pois o caos era muito).

Como chorámos, ela e nós, deste afastamento que, apesar das promessas, sabíamos ser um ADEUS para sempre...

Vitória... a nossa Vitória... por onde andará a linda menina de olhos vivos e curiosos...



... Outra história - continuação



Técnicas de Observação Directa


Lá em casa consumia-se o chamado "pão de quilo", assim denominado por ter sensivelmente esse peso. Era um pão grande e com muito miolo, que eu tirava metendo a minha pequena mão dentro do pão e deixando-o todo esburacado.

Os adultos, ao dar pelo pão ratado, pensaram mesmo que havia ratos em casa, pelo que armaram ratoeiras em todas as divisões, nos sítios mais incríveis... debaixo das camas, em cima dos armários... até na casa de banho havia ratoeiras!

Eu sabia, pois com medo que fosse lá mexer, tinham-me avisado do perigo que era mexer naquelas coisas...

Mas o grande prejudicado por esta "fobia aos ratos" foi o nosso...gato!

A minha avó "cortou-lhe" a ração diária, pois dizia que o bichano, com fome, iria caçar o/os rato/os que nos "comiam" o pão.

Até que um dia...


Nesse dia, minha mãe topou que eu saía, sorrateira, da cozinha com as mãos escondidas nos bolsos do bibe.

Sem dizer nada, seguiu-me até à varanda onde observou a cena. Com as mãos cheias de miolo de pão, distribuia o mesmo pela minha boca e... pelas rolas, que naquela altura já esperavam a minha visita como sendo da "família"...

Com este estratagema, consegui assistir à postura dos ovos, à forma de chocar os ditos (para mim, a rola tinha adoecido pois não saía do ninho) e... ao aparecimento de umas "aves feias", cheias de penugem molhada, mas com aparência de... rolas!

"Pronto!" - pensei eu - aqui está a maneira que aparecem os filhos! Mas não vou dizer nada a ninguém... se não querem que eu saiba, também não lhes vou dizer que sei!


O tempo passou...

Como já referi, eu fui filha única, neta única e sobrinha única durante toda a minha infância...e isso trazia uma pequena "guerra" para ver com quem a menina ia passar férias!

Numa dessas estadias em casa dos tios, desatei a chorar com saudades da minha mãe...

A minha tia tentou animar-me dizendo que gostava muito de mim, que eu era a "menina" dela pois não tinha filhos....

Ao que eu prontamente respondi:

- Não tens filhos porque não queres!

Espanto!

- Não quero? - perguntou a minha tia - Porque dizes isso?

- Pensas que eu não sei? - respondi eu - Eu vi como fizeram as rolas!...Puseram ovos e nasceram rolinhos... Põe tu também um ovo!

A minha tia desfazia-se em gargalhadas... e continuou perguntando porque é que a minha outra tia não tinha filhos também...

Essa minha tia, senhora muito magra e com uma anemia crónica, costumava ingerir ovos... crus, pois dizia-se que fortalecia e combatia a anemia....

Quando respondi àquela pergunta maldosa, as gargalhadas redobraram, pois para a minha lógica essa minha tia punha os ovos e... comia-os!


Sempre fui muito curiosa e quando as respostas às minhas perguntas não me "agradavam" procurava saber a verdade....mesmo criando "erros graves" na minha cabeça!

... Outra história ...



A Descoberta da Vida!


Quando tinha os meus 3/4 anos, comecei a fazer "perguntas difíceis" aos meus pais, avós e tios.

"De onde vêm os bebés?"

"Como é que as mães têm os filhos?"

E coisas deste género....

Como é de prever, as respostas que me davam (e sempre me deram respostas), não coincidiam com a minha lógica...


Resposta da minha mãe:

"Uma cegonha trouxe-te no bico e deixou-te na varanda, dentro de um cestinho"

Ora, eu não via cegonhas a passear nos céus de Lisboa...e quase todos os dias me diziam que fulano ou sicrano tinham um bebé!


Resposta do meu pai:

"Telefonei para França e mandaram-te dentro de uma encomenda"

Mentiroso! (pensava eu!). Se eu viesse de França, falava aquela língua esquisita que o tio Domingos estava sempre a dizer...e se viesse dentro de uma encomenda, como é que eu respirava? Além disso, a minha mãe disse de outra maneira que não bate certo com esta.


Resposta dos meus avós:

"Vieste dentro de uma couve"

Cada vez me convencia mais que estava rodeada de "mentirosos", que só me queriam "enganar"... Como poderia ter vindo dentro da couve?


Resposta dos tios:

"Deixaram-te à porta de casa, num cestinho"

Ora bem! - pensava eu - Por aqui não sei a verdade!

Como devo ter nascido com o genes da pesquisa muito desenvolvido, decidi procurar...sozinha!


O meu avô paterno criava, numa linda e grande gaiola feita por ele, rolas da Índia.

Como me ensinaram que as rolas eram seres vivos, decidi observar como apareciam os filhotes.

Durante meses, foi a minha ocupação!


terça-feira, 13 de maio de 2008

A minha mãe!



A minha Mãe!


Tenho aqui descrito alguns dos personagens que me ensinaram a caminhar na Vida...

O meu pai, homem divertido e bem disposto...

O meu avô...homem sábio, na sua sabedoria de Vida, sério, sereno e com uma paciência incrível...


A minha mãe...ah! a minha mãe...


Não concebo a palavra Alegria sem a associar à minha mãe!

Nascida no Rosmaninhal, filha de Aleixo Lobato Pina, cabo da Guarda Fiscal (chefe do Posto fronteiriço de Segura) e de Aurora Barata Pereira, senhora com uma instrução muito boa (para a época) e Valores morais excelentes.

Foi deste casal que nasceu minha mãe. Tinha um irmão mais velho que era o seu Amigo e confidente.

Criada numa vila do Interior , frequentou a Escola com a ideia de seguir os Estudos...boa aluna, aplicada, muita vontade de aprender mas... mulher!

Quando concluiu a antiga 4ª Classe, para continuar a sua Formação teria de sair da vila e ir viver para Castelo Branco. Minha avó dispôs-se a ir com ela, pois na altura, menina a viver sozinha era... bem...mal considerada!

Mas...

Meu avô não deixou... dizia que filha dele não saía de casa sem casar... que a mulher também não devia deixar o marido para ir viver em outra terra com os filhos...que se fosse para viver sozinho, ele não tinha casado!

Resultado:

Minha mãe apenas estudou até...à 4ª Classe, fez Exame com distinção e... ficou por aí!

Para que tivesse uma ocupação, meu avô deixou que frequentasse um Curso de Corte e Costura, que ela aproveitou muito bem, pois tinha mãos de fada!

Na casa era raínha... tudo o que fazia era com gosto e bem feito... uma cozinheira de "mão cheia", um gosto para decoração... uma noção de arrumação e ordem que por vezes me aborrecia pois era quase perfeccionista!

No meu Blog de Recordações em imagens, já coloquei alguns desenhos dela, e aí se percebe a perda que foi o não ter seguido Belas Artes.

Outra característica de minha mãe era... a voz!

Tinha uma voz melodiosa e clara e cantava todo o dia canções que me deliciavam.

Foi com ela que aprendi a gostar de música.

Ainda me lembro de me sentar no seu colo e pedir-lhe para cantar.

Com uma alma alegre e divertida, era a alegria da casa.

Mesmo doente e internada, era ela que animava as outras doentes com o seu espírito vivo e muito activo...

Era a minha confidente... podia contar-lhe tudo, pois escutava-me sem ralhos ou zangas...apenas conselhos e soluções.

Posso dizer sem errar que fui uma criança muito feliz, rodeada de pessoas lindas e que, acima de tudo, me ensinaram a viver com Alegria, apreciando as boas coisas da Vida.


Minha querida mãe...vou sempre precisar de ti!

Que Saudades eu tenho de ouvir a tua voz, as tuas canções e o teu riso...


domingo, 11 de maio de 2008

O meu avô paterno!



O meu avô paterno


Muitas vezes me lembro deste meu avô... aliás, o único que conheci, pois o meu avô materno já tinha falecido.

Nasci na sua casa, em Lisboa e aí fui criada até aos 5/6 anos...

A sua profissão era Guarda Fiscal, no posto de Cabo, o que na altura tinha uma certa importância...

De estatura média, com cerca de 60 kg, era uma pessoa séria, honesta e respeitadora... um verdadeiro democrata!

Eu era a sua menina, única neta e sem outros netos, era comigo que passava o tempo de folga.

Lia e contava-me histórias que me deliciavam, levava-me ao Miradouro da Senhora do Monte que carinhosamente tínhamos baptizado do "Jardim da Celeste" e tinha a paciência para me aturar as brincadeiras de criança pequena.

Era o meu "confidente" de amuos e queixas e muitas vezes me defendeu perante castigos que considerava injustos.

Quando completei 4 anos, o meu avô achou que estava na hora de me ensinar a ler, talvez para se "ver livre" desta "chata" que todas as noites, pousava um livro em cima da mesa da cozinha e lhe dizia:

- Avô... Lê-me uma história!

Foi pelo meu gosto de histórias que ele me atraiu a atenção para a leitura...um dia propôs:

- E se eu te ensinasse a ler? Podias ler todas as tuas histórias sem estares à espera de mim!

E pronto! Estava desperto o interesse!

A partir daí, todas as noites o nosso livro era... a Cartilha Maternal de João de Deus. E a minha vontade era tanta... o professor tão competente e paciente, que em pouco mais de dois meses eu LIA!

Foram noites únicas!

Eu e o meu avô!

Sentados na cozinha, depois do jantar, ali estavam avô e neta, falando de tudo de uma forma lúdica... histórias, livros, astronomia, matemática...

Foi com ele que eu aprendi o nome das constelações e a identificá-las... nos nossos passeios, muitas vezes caminhávamos olhando o céu e localizando estrelas...não mais me esqueço da sensação de pequenez que sentia, ao olhar o negro firmamento e vendo brilhar, como pirilampos, aquelas estrelas com nomes esquisitos que meu avô sabia e que lentamente iam ficando na minha memória...

Foi com ele que eu aprendi o respeito à Natureza...

Nunca vi o meu avô zangado!

Bem... apenas uma vez e já eu tinha 8/9 anos!

Passou-se esta história na mesma altura que a "aventura do burro".

Na vila do Rosmaninhal era costume fazerem-se promessas aos Santos mas sem o desgate físico de uma caminhada. Quando alguém era atendido num pedido, prometia fazer uma "doação de x alqueires de trigo em bicas"

A bica era um pão com a forma de paposseco, que se distribuía à portas das oradas onde se tinha feito o pedido.

Uma das minhas amigas da brincadeira chegou um dia ao pé de mim e disse-me:

- Estão a dar bicas no S. Roque...vamos lá?

E eu, sem saber muito bem o que era, fui!

A fila de adultos e crianças era grande e nós lá esperámos pela nossa vez.

Quando estava para receber o tal pãozito, aparece o meu avô na curva da estrada...olha para mim e, sem dizer uma palavra, aponta o caminho de casa.

Saí da fila e acompanhei-o (sem ter recebido o tal pão).

Dessa vez... vi-o muito zangado comigo!

Dizia (e com razão) que eu não tinha necessidade de esmolar um paposseco!

Que aquele pão era para as pessoas que não tinham comida em casa e que eu estava a "tirar" da boca de algum garoto uma coisa que eu não precisava...

Que sermão!

Não me bateu, não me pôs de castigo... apenas me fez sentir a pior das pessoas...

Meu querido avô...

Ainda hoje eu sigo muitas das tuas lições...

O meu avô faleceu em minha casa, no ano de 1982.




quinta-feira, 8 de maio de 2008

Uma história...







Uma história...









Iniciei um novo trabalho, num novo espaço... tem como título "Trabalho...Inacabado".

É um espaço dedicado a textos do meu Pai, natural de uma vila perto da raia de Espanha, onde eu ia passar férias!

E recordando algumas histórias por mim passadas, venho aqui contar uma...


Era Verão...
Talvez o ano de 1961/62...
Sei que foi numa época em que, eu e minha mãe, estávamos em Portugal pois tínhamos fugido da guerra em Angola. Meu pai ficou em Luanda e pôs a salvo a sua grande riqueza... a mulher e a filha!

Mas contava eu... era Verão...

Como criança ainda, passava férias no Rosmaninhal, em casa dos meus avós paternos... muitos dias na casa da minha avó materna, senhora viúva e com uma paciência enorme.
Adorava tudo o que se relacionasse com a vida do campo... e como criança curiosa, não pude resistir quando, um dia, uma prima da mesma idade, filha de uns tios-avós pastores, me desafiou para ir com ela para o campo.
Consegui convencer o meu avô e a minha mãe a deixar-me ir...montada num burro ainda novo, com a promessa de estar em casa ao anoitecer...
As duas (eu e minha prima) íamos felizes que nem pássaros numa eira!
A cabana onde os meus tios avós estavam, distava cerca de 6/7 km da vila...
A meio do caminho achámos que o burro era "lento" e que o poderíamos fazer correr como se de um cavalo se tratasse.
Assim, começámos a zurzir o pobre animal que ao princípio não nos ligava nenhuma...Batemos no pescoço, nas ilhargas, no lombo e... Nada!
Com o mesmo passo miúdo e apressado, lá ia o burrico sem acelerar!
Montada na albarda (espécie de sela larga, sem estribo, para animais de trabalho) decidi que o animal não podia ser mais teimoso que eu...criança de 8/9 anos.
Peguei num pau que saía de um alforge e ...zás!
Uma grande paulada na trazeira do burro!
O bicho deu um pinote tal, que as duas fomos parar ao chão...
E não contente com o ter feito desmontar estas cavaleiras "violentas", desatou a fugir pelo campo fora, aos saltos, coices e... zurros!
Ainda a esfregar os trazeiros, estas duas crianças (a minha prima teria na altura 10 anos) tentaram apanhar o burro, pois não podíamos aparecer sem o animal...
Que esforço!
E que corridas!
Uma pela esquerda, outra pela direita, tentávamos aproximarmo-nos de forma a pegar na corda que lhe pendia da cabeçada!
O asno (que de asno não tinha nada!) parecia não se aperceber da nossa aproximação mas... quando alçavamos a mão para a corda, lá fugia ele, campo fora, zurrando como se estivesse a rir de nós!

E assim passámos uma tarde...correndo atrás de um burro...

Ao anoitecer, lá chegámos á cabana dos meus tios-avós, num estado lamentável, sujas, chorosas, arranhadas e ... sem o burro!
Uma das coisas que sempre admirei nos membros da minha família, foi a paciência que demonstravam em relação aos mais novos...

O meu tio-avô João, muito divertido, informou-nos que o burro... esse animal "bravio e selvagem" já há muito que estava no curral a descansar... e que a nossa aventura teria sido escusada, pois o animal voltaria a casa, não havendo a necessidade de correr atrás dele...

Depois de "tentar" tirar a maior parte da sujeira, num caldeiro cheio de água do poço, comi o melhor manjar da minha vida...pão caseiro, acabado de sair do forno, leite de cabra acabado de ordenhar (e ainda à temperatura do corpo) e um naco de queijo, feito de forma tradicional, com um sabor ...fantástico!
Depois... bem, depois houve necessidade de me levarem á vila, pois a promessa feita à minha mãe era para cumprir!
Como a noite já ia alta (deviam ser perto das 11 da noite) o meu tio decidiu ir "entregar-me" e explicar a nossa aventura!

Que saudades desse tempo em que corria no campo, atrás de um burro teimoso e... "selvagem"!


Letinha






segunda-feira, 28 de abril de 2008

Invertemos os Valores!




Estamos a inverter os Valores!


Pois é!

Por muito que nos pareça mentira, estamos a inverter os Valores...


No meu tempo, o esforço e o Mérito eram reconhecidos ... a Preguiça e a falta de empenho eram castigados!

Hoje verifica-se o contrário!


Na Escola:

Quem estudava, se aplicava e tentava fazer o seu melhor, poderia atingir o prémio de ser.. dispensado dos Exames Finais!

Hoje parece que compensa ser..."baldas"!

Quem não se aplica, não se esforça e não trabalha, entra nas lista de "alunos apoiados"... ou seja, arranjam um "currículo alternativo" e, desde que atinjam os objectivos mínimos, transitam para o ano seguinte, como aqueles que realmente se esforçaram. Será que é justo para quem se esforça?


Na Sociedade:

Sou a favor dos Direitos Humanos para quem merece!

E será que merecemos todos?

Um homicida, que não se preocupou com os Direitos Humanos da vítima, será que merece a nossa preocupação com os seus direitos?

Neste País, quem viola as Leis tem mais direitos que quem as cumpre!

Afinal, quem cumpre as Leis é que está "preso" ao trabalho, à vida difícil do dia a dia, ao cumprimento de horários e regras, ao cansaço de um ritmo mecanizado, ao stress de uma vida corrida...

Quem viola as Leis tem direito a cama, mesa e roupa lavada de borla... televisão e ar condicionado, exercício físico diário, possibilidade de fazer uma formação sem muito esforço, tratamento médico gratuito com direito a transporte e escolha do médico da especialidade... e o pouco trabalho que executa ainda é remunerado!

Li num jornal diário que há um país europeu onde as condições de uma penitenciária são TÃO boas que as pessoas assaltam a Penitenciária...para ENTRAR!

Registam-se entradas indevidas mas... não há registos de fugas!

Ora digam lá se não é inverter os Valores!

Qualquer dia, teremos que pensar na Segurança de...entrada., pois cá fora é que, parece, estar-se mal!


Letinha

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Desporto!




Há cerca de uma semana que não deixava aqui o meu comentário!

E hoje vou falar de...DESPORTO!



Bem, o que a maioria entende por desporto, para mim é profissão bem paga!

No país onde resido, desporto é...FUTEBOL!

Não se espantem, pois um país com cerca de 92.391km2, apenas a capital (83,84km2) é considerada ... o resto é paisagem!



Mas voltemos ao desporto... neste caso, Futebol!

É uma AFRONTA a todo um povo com vencimentos que mal dá para viver decentemente, que haja "atletas" a ganhar tanto... e podem acentuar o TANTO à vontade!

Um trabalhador precisaria de trabalhar a vida toda, sem fazer despesa nenhuma, para conseguir ter o que estes atletas recebem... num ano!

Por isso, para mim, desporto é o que se pratica de uma forma amadora, sem interesses financeiros, de modo a manter o físico são em alma sã, tão ao gosto dos antigos gregos...

Os grandes Clubes deste país, vão terminando com essas modalidades...

Já não nos orgulhamos de campeonatos de Hoquei em Patins, onde estávamos sempre na primeira linha...

Já não participamos com destaque em Voltas, na modalidade de Ciclismo.

Já não vibramos com as nossas equipas no Basquetebol...Andebol...

A única modalidade que é publicitada é o Futebol!
Em certos jogos, fazem parar o País!
A "loucura" tomou conta de muita gente... não há dinheiro para fazer face às despesas essenciais, mas compra bilhetes para assistir a jogos!
E que vantagens nos traz esse Desporto?
No aspecto moral, vários são os processos de corrupção e até violência ligados ao futebol!
No aspecto financeiro, gastam-se "rios" de dinheiro, não só na compra de jogadores (muitos depois ficam no "banco"), como na construção de Estádios, cujo espaço não é reutilizado para outros fins...

Eu sou adepta de 2 Clubes...
Um, ainda actual, é o "meu" Sporting que ontem me deu uma alegria ao mostrar em 27 minutos que, quando quer, é capaz! Está incluído nesta minha crítica!

O outro, já não tem expressão neste país, era o "meu" Ferroviário de Angola, onde "aprendi" as regras de várias modalidades e onde os atletas eram... amadores... mas suavam a camisola por amor ao Clube!
Acho que é isso que falta hoje nos jogadores: Amor a um Clube!
Apenas aplicam os conhecimentos em nome de uma verba choruda...

E por hoje já disse o que penso...

Letinha

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Nascer / Morrer

Podem dizer que sou velha, antiquada, com mentalidade medieval... mas há coisas que não deviam ser mudadas...NUNCA!

Estou a falar de Vida e Morte!

Estou a falar de Nascer e Morrer!
Criou-se o hábito cómodo de nascer em Maternidades e morrer em Hospitais!
Hábito, porque hoje em dia é o que acontece, mesmo sem haver necessidade para tal!
Quando existem problemas para a saúde que o justifiquem... não há outra maneira!
Mas quando não existem...eu pergunto PORQUÊ!
Considerando que a Maternidade NÃO é doença...porque não se nasce em casa, rodeada da família?
Eu nasci em casa! Nesse tempo havia Maternidades para os casos graves de partos de risco...o que não foi, felizmente, o caso de minha mãe! Teve a presença de um médico ( o médico de família) e de uma parteira, além de toda a família que "cirandava" pela casa, à espera da minha "chegada"...Nasci no seio da Família! Não nasci num ambiente impessoal, rodeada de gente "estranha"!
Sinceramente, ninguém se lembra do seu nascimento... mas será que no subconscîente de cada um, não ficará marcada essa chegada?
Nos anos 60/70, era moda não alimentar os bebés ao peito... era muito mais "higiénico" e prático, alimentá-los com leite "artificial" e através de uma "garrafa" com latex na ponta!
Chegou-se agora à conclusão que é fundamental para a relação mãe/filho, esse período de amamentação, além dos benefícios que traz para a saúde de ambos!
Eu também fui alimentada com o leite materno!
Mas não me lembro disso... só sei que a "ligação" que eu tinha com a minha mãe era muito forte...será que teve influência aqueles períodos de tempo que ela passou falando comigo e me amamentado? O tempo que eu passei ao seu colo sentido o seu ritmo cardíaco, a sua voz e o seu cheiro?

Após uma Vida de trabalho, o nosso final tem o mesmo destino: Hospital!
Será que não nos dão a dignidade de morrer no seio da Família?
Há situações em que, por doença, se recorre aos locais onde a assistência é a melhor...mas...e os idosos? Aqueles que, no fim do seu "tempo" têm de "partir"?
Porque têm de morrer sozinhos? Porque não podem morrer, sentido que toda a Família está presente para lhe dizer "Adeus" ?
Nasce-se e morre-se no meio de estranhos, que nunca vimos na Vida, que não nos dizem nada no aspecto afectivo...
Vida / Morte!
Entrada / Saída
Duas alturas fundamentais da nossa Vida!
Duas alturas naturais da nossa evolução que deveriam ser partilhadas com quem mais amamos....
Antigamente, era assim!

Hoje, é mais "cómodo" não assistir... apenas "saber" a notícia depois do facto consumado!

Letinha

sexta-feira, 28 de março de 2008

Disciplina!



Disciplina


Desde há uns dias para cá, quando da visualização de um filme "amador" feito por um aluno, que se tem falado muito, escrito muito, sobre a indisciplina nas Escolas!

Pois bem, meus Amigos...

Essa situação tem vindo a aumentar de ano para ano...ninguém fez nada, comentou nada, travou coisa nenhuma!

Apenas se limitaram a criticar os professores, dizendo que eram uns incapazes de lidar com a situação... que não era bem assim... que as crianças é que sofriam as agressões dos professores... etc...etc...

Soube de vários casos em que o professor foi condenado judicialmente a pagar coimas e indeminizações, apenas por ter tentado colocar alguma disciplina e ter tentado evitar as agressões físicas e morais a que estava sujeito!

E agora espantam-se???

De quê?

Não foi este crescendo de indisciplina e de falta de autoridade do docente que esta sociedade queria?

Pois se não era desejada, tudo fizeram para que ela (indisciplina) aparecesse!

Eram os Encarregados de Educação que, sem tempo para os "rebentos" que fizeram, delegavam na Escola (como de um redil se tratasse) a segurança das suas crianças...Sim!...Segurança!...Pois o resto, inibiram a Escola de fazer!

Se uma criança desse um pontapé na canela do professor, este apenas poderia fazer...Ai!... e ficava por aí.

Podem alegar que poderia sempre...participar!

Pois...pois!

Mas a verdade é que uma participação leva a inquérito... o inquérito leva a confrontações entre as partes... as confrontações entre as partes levam a relatórios... os relatórios levam a novos inquéritos...tudo por causa de um pontapé, que poderia ter sido resolvido com...um estalo!

Quando se chega a um veredicto de toda esta situação, já a criança não se lembra por que motivo fica castigada!

Que ninguém pense num professor como "carrasco" dos meninos santinhos!

Tenho a certeza que há muitos (a maioria) dos professores que, estando mais tempo diário com as crianças, os vejam mais como seus "filhos" do que os verdadeiros pais... pois estes apenas têm tempo de cuidar (quando cuidam) da sua higiene e alimentação!

Se a sociedade deu à criança/adolescente a idéia errada de impunidade perante as atitudes tomadas, que espanto e revolta é esta agora?

Aquilo que as imagens mostram não foi excepção!

É quase a regra!

Fui professora durante 32 anos... sei do que falo!

É raro o dia que uma simples aula funciona como estava programada!

E porque os professores não se queixam?

Porque, além de serem agredidos (física e moralmente) ainda ficam de "castigo" a fazer participações, relatórios, inquéritos... e não sei mais o quê, para que, no final, o "menino" em causa seja repreendido com um "Não devias ter feito isso!"

Assim, é a mesma coisa que condenar um homicida a cama/mesa/roupa lavada à custa do Estado (que somos todos nós), com direito a TV, aquecimento central ou ar condicionado, exercícios físicos diários, etc...etc... enquanto a vítima tem direito a uma cova com sete palmos de terra em cima!

Pois é!

Que adianta um homicida ser condenado a 15 ou 20 anos de cadeia?

Ele tem a hipotese de sair...a vítima não!


E pronto!

Por hoje já deixei o meu comentário...


Letinha


sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher!



Dia Internacional da Mulher!


É hoje!

O dia escolhido para homenagear a Mulher!

Daí a minha pergunta: Só um dia?

E porque não todos os dias do ano para se homenagear a Mulher... a Criança... o Homem...?

Mas isso é a minha opinião!

Voltando ao tema da "conversa"...

Afinal... que seria do Mundo sem... as mulheres?

Na História da Humanidade, elas sempre tiveram mais tarefas que os homens...

Pré-História:

Homem - caçador e guerreiro!

Mulher - recolectora, agricultora, organizadora da comunidade, criadora dos filhos, guardadora do Lar (fogo), etc...etc.


Antiguidade:

Homem - Guerreiro, mareante e governante (também assumia algumas tarefas de agricultura e pastoreio, dependendo do seu status social)

Mulher - Protectora do Lar, criadora dos filhos, organizadora da vida doméstica (a maior parte das vezes, escrava do Homem, que tinha sobre ela o poder de Vida ou Morte)

Nota: Foi talvez neste período da História, que em alguns Povos a Mulher foi vista com maior deferência, pois competia às mulheres o cargo de Sacerdotizas e o respeito que esse cargo trazia!


Idade Média:

Xiii!!!

Aqui a Sociedade estragou tudo!

A Mulher era vista como "parceira" do demónio, afastada dos pontos de decisão, do sacerdócio, do poder sobre a educação dos filhos, da Educação e Instrução...mas continuou com as tarefas indispensáveis à Vida e que o Homem decidiu não querer fazer porque...eram tarefas de Mulheres!


Idade Moderna:

Aparecem algumas (poucas) heroínas a querer mudar o Status social... a História apresenta-as como "loucas"... "visionárias"... quase "anormais"... e a maioria pagou com a vida o seu atrevimento!


Idade Contemporânea!

Por necessidade, o Homem decidou deixar alguma "abertura" na Instrução e Educação da Mulher... podem estudar... podem manifestar a sua opinião... podem aspirar a alguma liberdade... mas ainda houve vítimas por estes direitos...

Já foi na minha geração que, pela 1ª vez neste país, as mulheres tiveram direito a...voto!

E Hoje?

Hoje já temos as Universidades repletas de Mulheres, mostrando que em termos de inteligência e Capacidades são, muitas vezes, melhores que os Homens... as percentagens da frequência em Cursos Superiores de Mulheres é superior à dos Homens...Também encontramos Mulheres em pontos de decisão, como empresárias...directoras de serviços, médicas, advogadas, juízas, embaixatrizes, Presidentes (poucas), Primeiras-Ministras (poucas), matemáticas... até no Serviço militar elas mostram ser tão capazes como os Homens!


Mas se as mulheres podem subtituir os Homens nas tarefas consideradas masculinas (não sei quem foi o idiota que escolheu essas tarefas), a verdade é que os Homens não querem substituir as mulheres nas tarefas femininas...Porquê?

Eles podem até dizer que ...fazem!

Há Homens que limpam a casa (poucas vezes), que lavam roupa (na máquina), que tratam dos filhos (tempo limitado que o "pestinha" chateia) fazem refeições (isso é o que mais gostam, apelidando-se de Cheff), lavam a loiça (sempre resmungando)... e dizem não precisar de mulheres para esse serviço!

Mas a verdade é que a maioria...contrata uma mulher-a-dias para fazer esse serviço...ou então...vai comer a restaurantes (não quem que fazer a refeição, nem pôr a mesa, nem lavar a loiça), utiliza os serviços da lavandaria (não tem de meter a roupa na máquina nem tem, depois, que passá-la)... e se tem filhos, arranja uma ama... ou entrega-os a familiares... ou coloca-os em Colégios, dizendo que é o melhor para a Educação deles!


Não quero com isto fazer um confronto entre Homem/Mulher!

Não é o que pretendo...mas gostaria de saber para quando a cooperação, interajuda (sem escolha de tarefas) e Respeito (trabalho igual, salário igual) entre Homem/Mulher!


Em poema, tento expressar o percurso feminino ao longo da História!




Feliz Dia da Mulher...para todos!


Letinha

quinta-feira, 6 de março de 2008

Que País este!

Pois é!
Hoje vou criticar um pouco o (des)Governo deste País!
Como de costume, vou de manhã às compras, aquilo a que se chamam as compras do dia e que consistem em pão, jornal, alguns legumes frescos e... o café do "café"!
Quando fui à padaria buscar os meus "papossecos", conversa puxa conversa e a padeira foi-me avisando que o pão iria subir...50%!
Espantei!
Perguntei porquê e tive como resposta ser o aumento do trigo, dos combustíveis, da água...etc...etc... os causadores deste aumento!
Para mim, que até estou "classificada" como Classe Média, apesar de fazer diferença, posso suportar...mas... a maioria dos reformados deste país, que recebem uma média de 200/300€ por mês, que já se vêem aflitos para pagar à farmácia, aos transportes que os levam ao Centro de Saúde mais próximo (que deixaram de ser gratuítos, pois não há médico que assine o justificativo), a alimentação, a luz, o gás, etc, etc...como vão fazer para poderem comer...pão?
Façamos umas pequenas contas...
Cada carcaça...paposseco...aquele pãozinho que se costuma pôr na mesa ou fazer uma sandes... custa 0,15 cêntimos...ora 10 x 0,15=1,50€... que por sua vez é igual a 300$00!!!
Pois é!
300$00 por dez papossecos!
Ora, se a padeira diz que vão aumentar o pão em 50%, quer dizer que dez papossecos ficarão na "módica" quantia de...2,25€ que é igual a ...450$00...
Será possível?
Imaginemos um casal trabalhador, com 2 filhos a criar...
O ordenado mínimo neste país é...430,00€/mês...se os dois trabalharem, terão ao fim do mês qualquer coisa como 860,00€ (132.000$00 +/-)...
Renda de casa (depende da zona) .... 350,00 / 400,00€
Transporte (público)para ir trabalhar ..........150,00€
Água+Luz+Gás ..............150,00€
Alimentação...?????????
Farmácia.....?????
Se cada paposseco passar a custar 0,23 € (com o arredondamento por excesso, que nunca arredondam por defeito) e se comer 6 por dia, ao fim do mês terá gasto...41,4€=8280$00
Como vai sobreviver?????
Enquanto isto acontece para a maioria do povo português, os nossos (des)governantes pensam em TGV, aeroportos novos, estádios de futebol para as moscas, ofertas de verbas aos PALOP's, etc...etc...
Que país é este?
Onde vamos parar?
Será que estamos mesmo na Europa?
Só se for no pagamento de Impostos!
No resto...devemos estar no chamado 3º Mundo!

Vou ficar por aqui...pois há coisas que me revoltam!!!

PS. Tenho a informar que NÃO SOU COMUNISTA NEM AFECTA A QUALQUER PARTIDO DE ESQUERDA!
A ter alguma ideologia política sou...MARCELISTA!

Letinha

segunda-feira, 3 de março de 2008

Brincadeiras...



As Brincadeiras do meu tempo!


Pois é!

No meu tempo...brincava-se!

Com riscos...com alegria...com responsabilidade!

Mas também com convívio, formando laços que nunca mais se quebravam!

Brincava-se na rua, sem medo de raptos ou acidentes graves...

Brincava-se em grupo, sem olhar ao status social de cada um...

Brincava-se respeitando o vizinho, pois este era tão capaz de nos pregar um estalo como os nossos pais!

Brincava-se respeitando as Autoridades, pois se houvesse queixas, os castigos eram...a sério!

E fomos crescendo...respeitando regras sociais, criando amizades, desenvolvendo as capacidades físicas e emocionais, criando Valores de Respeito, Solidariedade e regras de Grupo!

Ninguém "fazia queixinhas"!

Se alguém era posto de castigo, o grupo ficava também!

Trepava-se às árvores, corria-se na rua, saltava-se à corda...jogava-se ao ringue!

Não tínhamos dinheiro na mão...não tínhamos brinquedos já feitos...não havia PC's, Play Stations, telemóveis... mas éramos FELIZES!

E hoje???

Os nossos jovens são...infelizes!

Não podem brincar na rua porque...

...o trânsito automável não deixa!

...o perigo de rapto é real!

...os vizinhos já não se conhecem!

... se houver algum perigo, as pessoas "olham para o lado" e não intervêem!

Não querem aborrecimentos!

Onde fica a aprendizagem social de convívio, interajuda, amizade, respeito pelas regras e Valores?

Não se aprende!

Então, o que resta aos nossos jovens?

Apenas a brincadeira isolada...o jogo de consola ( game Boy ou Paly Station)...o hábito da solidão... a obesidade por falta de exercício físico...e a desconfiança de tudo o que os rodeia!

Já não sobem às árvores... já não correm em brinquedos feitos por eles..já não se assumem responsáveis pelas atitudes e pelo grupo, que não existe!


É triste ser jovem nos dias de hoje!


Letinha

sábado, 1 de março de 2008

Avaliação de Professores?


Fala-se muito na Avaliação de Professores!

Publicam-se Despachos e Decretos-Lei sobre a forma de os Avaliar!

E...os Professores, milhares deles, revoltam-se!

Será que não querem ser Avaliados???


Nada disso!!!

Os Professores não se importam de ser Avaliados... importam-se é com forma COMO vão ser Avaliados!


1º Presença e Pontualidade no Serviço

Concordo que se cumpra o horário de forma integral....mas com condições!

Isso parte já do início...do Concurso e Colocação dos mesmos Professores...

Como pode um Professor, que vive na Covilhã, chegar a horas a uma Escola que fica na Sertã ( cerca de 170 km)?

Todos os dias enfrenta o levantar bem cedo, deixar tudo minimamente organizado em casa (filhos, marido, etc), enfrentar uma estrada (no Inverno é de noite às 6 da manhã) que pode estar interrompida ou por acidentes ou por trabalhos na via, e chegar a horas à Escola?

Antigamente, quando havia estabilidade nos Concursos e uma colocação efectiva podia ser para toda a vida, o professor fazia a sua residência no lugar os trabalhava!

Como eu!

Agora, a colocação é por 3 anos... depois arrisca-se a ser colocado noutro sítio... será que vale a pena mudar a residência?


Um professor tem família...filhos...

Mas se faltar para acompanhar um filho doente... é avaliado por isso...

Será que um Professor não pode ser pai/mãe?

Quem é que pode achar humano obrigar alguém a ter bom desempenho no trabalho, quando o seu filho se encontra doente, muitas vezes internado em Hospitais?

Mas se faltar... é Avaliado por isso!


Eu acho que não devem ser estes os parâmetros de Avaliação!

A avaliação dos Professores devia incidir na interacção com a turma, com os meninos que eles acompanham durante o ano lectivo...com a empatia que se gere numa turma...com a confiança que o professor pode angariar nos seus alunos...

Mas...

Para isso acontecer, é preciso Respeito...Respeito pelo Docente, como pessoa mais velha e com a missão de orientar e... Respeito pelos alunos, como jovens irreverentes que gostam de brincar...portanto deve-se Aprender em forma de Brincadeira!

Como interagir com uma turma onde a maioria dos alunos ofende o Docente, atira com objectos, não sabe estar sentado direito, grita e conversa como se estivesse num café ou num parque infantil?

Para quando a noção de que uma Sala de Aula é um lugar de respeito?

Para quando a Autoridade do Professor (sem medo de penalizações de carreira) dentro do recinto Escolar?


Quando recebi esta minha última turma, este meninos tinham...6 anos!

6 aninhos... vindos quase todos da pré-primária...

E logo nos primeiros dias, quando ralhei com um deles por má posição e má-educação, responde um outro:

- A Professora não pode bater... senão vai a Tribunal!

Olhei para o "pestinha" e, sorrindo, respondi:

- Quem disse que não posso?...Posso sim senhor!... E ainda bem que avisas que vou a Tribunal... assim, em vez de uma só palmada, levam uma grande sova... e depois vou a Tribunal.....mas essa sova ninguém vos a tira!

Ficaram assustados, mas entenderam que... eu não tinha medo deles!

NUNCA TIVE PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO NA TURMA!

E era só abrir os olhos, de cara séria, para que me obedecessem sem refilar...


PARA QUANDO O RESPEITO A UMA PROFISSÃO FUNDAMENTAL NUMA SOCIEDADE QUE SE QUER JUSTA, HUMANA, CULTA E COM VALORES?


Letinha

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Somos TODOS Culpados!




Já várias vezes comentei aqui o que acho da situação actual dos idosos deste País!


E ontem fui dar com o meu marido, emocionado, a ver uma reportagem televisiva sobre a situação dos idosos (talvez, devido à idade, se estivesse a ver naquela situação).


Pois bem!

Somos TODOS culpados!

Somos culpados por nada fazer!

Somos culpados por olharmos "para o lado", dizendo que essa situação é da responsabilidade do Estado, das Famílias, das Instituições...o que não deixa de ser verdade... mas somos culpados por não EXIGIR a quem de direito, melhor tratamento e cuidados a cidadãos que, durante uma vida inteira se sacrificaram...pelos filhos, pelo seu País, pelo seu trabalho....e que no fim dos anos de vida são tratados como...animais!

Sim senhor!

ANIMAIS!

Na reportagem que se transmitiu, focava-se a situação de idosos a quem a família levava às urgências dos Hospitais portugueses, os deixava na sala de espera com os documentos no colo e... "bazavam"!

Iam de férias!

E não é um caso isolado!


Um dos problemas que os serviços hospitalares se queixava era a dificuldade de encontrar a família quando davam "alta" aos doentes.... a direcção dada era falsa!

Que raio de Humanidade é esta, quando os nossos velhos são abandonados?


Outro caso falado na dita reportagem, era a dificuldade de sobrevivência com 240€ de pensão, para quem tem de pagar os medicamentos de que precisa!

O Estado, por não poder suportar as despesas, retirou as comparticipações de medicamentos a doentes crónicos, que agora os têm de pagar quase na totalidade (poucos se mantiveram na lista dos subsidiados)...mas esse mesmo Estado tem verba para oferecer as "pílulas do dia seguinte", as "pílulas contraceptivas", e outras "pílulas", a quem se diverte e anda "na boa"... o mesmo Estado tem verba para "pagar abortos" em Clínicas privadas... o mesmo Estado tem verba para abrir "Casas de Chuto" e oferecer tratramentos de Metadona a quem não quer sair do vício...

Pois é!

Velho já não dá lucro!

Mulher jovem dá lucro se....não estiver grávida ou for mãe!

Se tiver filhos ou for a caminho de um, já é problema pois vai ter de se ausentar do serviço para cuidar do "pimpolho"!

Os doentes do vício não dão lucro, mas "mostram" à Europa como cuidamos deles...


É triste chegarmos a uma situação de ter de escolher...ou compramos os medicamentos para aliviar os sintomas da doença ou...comemos! Se pagam à farmácia, não vão ao supermercado!...Se vão ao supermercado, não vão à farmácia!


E os Lares???

Os famosos Lares da Terceira Idade, sejam da Santa Casa da Misericórdia ou particulares?


Não vou falar dos Lares Particulares, pois esses são autorizados para...ganharem dinheiro!

Mas os da Santa Casa?

A Misericórdia foi fundada pela rainha D. Leonor com o objectivo de apoiar quem não tinha como sobreviver... agora, para se ter lugar num Lar da Santa Casa, chega-se a pedir uma quota de entrada (cerca de 1500€...que os velhos não têm) ou um testamento dos bens (casas, terrenos) que os velhos ainda possam ter em seu nome... depois, só tem vaga que der mais!


E nós...olhamos!

Nós...olhamos e...desviamos o olhar!

Temos pena e...ficamos por aqui!

E esperamos pacientemente a nossa vez de ....meter pena!


Hei-de voltar a este assunto...mais tarde!


Letinha

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Eles

Este é um texto que recolhi do Diário de meu Pai....
Talvez muita gente não concorde com o que está escrito, mas apenas descreve a maneira de sentir de Alguém que já não se encontra entre nós...


Eles...""...Para o "retornado", nem Portugal foi a sua esperança. Em vez de amor, receberam ódios. Em vez de compreensão, desprezo. Em vez de auxílio, criaram-lhe dificuldades. Em vez de palavras amigas, ápodos ignominiosos. Marcaram-no com os ferretes mais odiosos e aviltantes. Tornaram-no réu de todos os crimes (que "eles" cometeram). Marginalizaram-no. Tornaram-no pária! Vinha pobre, insultaram-no. E mais, muito mais o tornaram!Irracionalmente, confundiram a seu gosto o "colono" com o "colonialista".Trataram-no como mandrião e explorador, numa visão política mesquinha, ignorando as suas virtudes (hoje, está provado, que as tinham).Trataram-no como "manada" que tivesse entrado na sua quinta.Tornaram-no sinistro "bode expiatório" de todas as culpas dos seus erros, da sua inconsciencia e da sua ruína. E assim continuam como "intocáveis", esperando que Deus lhes cure as chagas....Eu, (baptizaram-me "eles") sou retornado!Nasci numa povoação que é sede de freguesia, que pertence ao concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco.Por conveniencia de serviço do então Ministério do Ultramar, embarquei para Angola em 1960, no paquete Vera Cruz, onde vivi e trabalhei até 1975, data que, por culpa "deles", fugi para a minha terra, Rosmaninhal.
A bandeira era a mesma.
Então um cidadão, que vai do Porto (sua terra natal) trabalhar para Lisboa e no fim de certo tempo, volta para a sua terra, é retornado?
"Eles" é que mandam, "eles" é que sabem, "eles" é que estudaram....Em Moçambique, essa descolonização (dito por "eles" exemplar) levou para as cadeias centenas de portugueses, homens, mulheres e crianças.Acusavam-nos de "crimes" contra a descolonização.Três meses antes da independência, as forças portuguesas, às ordens do comandante Vitor Crespo, Alto Comissário de Portugal, entregaram sete portugueses à Frelimo para serem mortos. Mantiveram-nos mais de um ano e meio em campos de reeducação, onde se encontravam cerca de uma centena, também prisioneiros, que iam sendo progressivamente libertados. Em Novembro de 1976, ainda havia cerca de vinte prisioneiros brancos.
Em Angola, o Alto Comissário Leonel Cardoso, à data da independência, deixou centenas de portugueses nas cadeias angolanas.Tinham sido presos durante o período de soberania portuguesa, suspeitos de colaborarem com a Unita e FNLA. Nunca mais foram libertados.Portugal, ao deixar presos políticos nas mãos de novos governantes, praticou um acto de abdicação de soberania, de que o Governo de Lisboa é responsável.Duplamente pagaram e pagam ainda, os de lá, os africanos, os que vieram e os que ficaram, ao cimo ou debaixo da terra.Os que vieram não foram bem recebidos, como já atrás ficou citado.Irmãos na desgraça não são da mesma família.Quando muito, são vagos parentes, que chegam inesperadamente à hora da refeição e, pelo aumento do número de bocas, tem de se fazer o caldo mais aguado.
Malditos sejam por isso.... Que se quedassem por África e estoirassem de fome ou com um tiro na cabeça....Que não viessem sobrecarregar as despesas da Metrópole.Que não viessem comer as côdeas e os ossos que podiam dar-se aos cães.
O destacado anti-fascista, António José Saraiva, afirmou no semanário "Liberdade" em 5/5/1976:"Diz-se e escreve-se que os retornados eram exploradores, brutais, ávidos de lucros, criminosos de delito comum, culpados de si mesmo..."Então esses que apontam os crimes dos retornados, que fizeram vidas inteiras senão aproveitarem-se dos ditos crimes?Como foi possível a vida parasitária da maior parte da população portuguesa durante séculos, senão à custa do negro, accionado pelo colonizador?Donde vinha o café e o açúcar que se consomia e consome abundantemente nas pastelarias de Lisboa?Donde vinha o algodão barato que permitia a tantos operários e patrões sustentarem-se de fabriquetas primitivas?Donde vinham as toneladas de ouro que faziam do escudo uma moeda forte, permitindo, com uma indústria deficiente e uma agricultura rudimentar, sustentar legiões de funcionários improdutivos?Pois é!Os "retornados" chegam numa altura em que "eles" precisam de uma desculpa para o maior fracasso da História e de um objectivo para cevar a nossa frustração irremediavel.
"Eles" gritam e bradam que: "o povo é quem mais ordena!"
Que povo?
Aquele povo que nada sabe e que não pode ser informado da realidade, porque não tem esse direito?Assim não!Melhor dizem "eles": "com papas e bolos, se enganam os tolos!"Pois o povo não será mais que um tolo.E como tal, saberá o povo das razões porque Spínola recambiou Vasco Gonçalves da Guiné para Portugal?Conhece o povo as "tropelias" de Vitor Alves, na Academia Militar e no Leste de Angola?Informou-se o povo da austera vida do capitão Tomé, em Nampula?Teria sido o povo informado do comportamento de Melo Antunes em São Salvador do Congo?Terá o povo conhecimento da valentia de Fabião e de Rosa Coutinho e o aprumo do abstémio Vitor Crespo, a inteligência de Otelo?Todos sabem que não!Mas todos acusam os retornados de trazerem milhões....milhões....milhões....
Parabéns para "Eles" .....Está feito o que quisestes!
Pêsames, Portugal! Que te viste espoliado sem nada te perguntarem!
Pêsames, Portugal! Que te viste ultrajado pelos que ilegal e ditatorialmente te Governaram.E que mal governados??Num sítio e com malta desta - quem se orgulha de ser português?
Aleluia, Portugal! Que hás-de renascer, que hás-de permanecer, graças aos teus heróis....Que voltarás a ser.... um Portugal, português!!!!!"

António Torres
Agosto 1976

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Aposentação!



A palavra "Aposentação" para a nossa Sociedade, é sinónimo de "velhice"!

Para mim, "Aposentação" é sinónimo de tempo livre!

Tempo sem tempo, onde podemos dedicar a nossa vida a fazer as coisas que, durante o período de serviço activo para com a Sociedade, não tivemos....tempo!


Na minha modesta maneira de ver, toda a gente devia ter a sua aposentação com uma idade em que o seu espírito ainda tivesse forças para gozar a Vida, com algum dinheiro para gastar e com tempo para o fazer!


Mas a verdade é que poucos têm esse privilégio!

A grande maioria chega à aposentação já cheio de "achaques", com dores e doenças por todo o corpo, e sem vontade de realizar aqueles sonhos com que sempre sonhou!

O destino final será um Lar de Idosos, a casa de algum filho que o queira receber e tratar ou um quarto qualquer de hospital público (quando não o põem na rua por falta de espaço).

Será que alguém, que deu os seus melhores anos à Sociedade, merece este tratamento?

Reformas de miséria, que mais parecem esmolas que a recompensa por tantos anos de trabalho... Condições degradantes em Lares que são bem pagos, onde muitos não têm a alegria de ver crescer os netos... Simples abandono pelos familiares mais próximos, pois a sua condição física impede que possa acompanhar o ritmo desordenado da Vida de hoje....

Idoso atrapalha!

Idoso tem limites físicos e um valor monetário que não compensa o esforço...

Idoso só tem conversa de tempos que já passaram....


Mas o Idoso tem uma experiência de Vida tão rica... que não devia ser deitada fora...


Eu tenho a felicidade de me ter aposentado ainda com idade de sonhos!

Ainda vou gozar o meu "Tempo sem tempo"!


Para quando uma Sociedade que reconhece o valor de um Idoso?


Letinha

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Uma surpresa!




Se há coisas que nos fazem dar por bem empregue os anos de trabalho… é o reconhecimento do nosso esforço e dedicação!

Na sexta-feira passada, fui convidada por uma colega de trabalho para ir jantar com ela a um dos restaurantes desta vila da Sertã.
Nada de especial…
Aceitei o convite sem saber o que me esperava!

Quando estacionei o carro, vejo-me rodeada por todos os meninos/as da minha turma!
Espantada, perguntei que faziam ali, àquela hora (20:30h) … e todos juntos!
“Viemos jantar consigo!” – foi a resposta.
Sinceramente…fiquei sem palavras. Eu, que nunca me calo, parecia muda!
Lá dentro, continuavam as surpresas…
Esperavam, para jantar comigo, os pais dos meus alunos….sim! Os pais, pois não era só um dos elementos que estava presente…não era só aquele pai que, como Encarregado de Educação, me costumava contactar na Escola… era o pai e a mãe de cada um ….

Estavam perto de 70 pessoas à minha espera para jantar comigo!
Como devem imaginar, a emoção encheu o meu peito. Os “meus meninos”, os “meus pestinhas” que tanto pediam para eu voltar à turma, como não conseguiam esse objectivo, tinham conseguido estar comigo…num jantar!

Ofereceram-me uma das grandes riquezas que eu vou guardar religiosamente: um DVD com as mensagens de todos eles …
Foi a melhor homenagem que alguma vez me podiam prestar!
Nem o reconhecimento pelo Presidente da República me deixaria tão satisfeita como a presença dos “meus meninos” naquele jantar!
No final de 32 anos de serviço docente, após ter levado ao 4º Ano 8 grupos de crianças, dou por bem empregue os sustos que apanhei em Luanda, nos tempos idos de 1975, para concluir a minha formação, dou por bem empregue o “sacrifício” de levantar cedo para chegar à Escola, quando muita vez apetecia ficar a dormir mais um pouquinho e dou por bem empregue, todo o carinho, atenção e ternura que durante anos dispensei aos meus alunos, muitas vezes deixando as minhas próprias filhas entregues a outras pessoas….
Deixo aqui a minha mensagem aos “meus meninos”:

Aos meus meninos…


Estive convosco três anos
Recebi-vos com Amor
Tratei-vos como meus netos
Dei-vos todo o meu Calor

Muitas vezes me zangaram
Por atitude escusada
Mas mesmo bem furiosa
Não vos trocava por nada!

Agora chegou a idade
De ir p’ra casa descansar
E para que não me esqueçam
Este livro vou deixar…

Nele vai uma mensagem
Nela podem acreditar
Para ser Alguém na Vida
Muito se tem de estudar

Não se percam no caminho
Continuem a avançar
Pois a sabedoria é o bem
Que nunca vos podem roubar!



Quando vemos as notícias sobre o Ensino neste País, dá-nos a ideia fria de um sistema fabril, em que as regras têm de ser cumpridas para segurança dos trabalhadores…Escolas com violência!...Escolas onde as agressões são o dia a dia quer dos alunos, quer dos professores… escolas onde se luta por alguns direitos…
De quem será a culpa?
A Escola não é uma empresa de lucro a curto ou médio prazo… A Escola é um local onde os Valores, o Respeito e a Sã Convivência deviam fazer parte do Currículo principal!

Que adianta termos “Doutores” em conhecimento se são “Analfabetos” de Emoções e Humanidade?

Hino da minha Escola – Música da “Cinderela” de Carlos Paião
(da minha autoria)

Quando entrámos para a Escola
Levando a sacola
Maior do que nós
Só queríamos brincadeira
Confusão… Asneira
Ouvir a nossa voz
E fomos todos crescendo
Brincando…Aprendendo
Criando Amizades
O 4º Ano acabou
Mas em nós deixou
Profundas Saudades

Refão
E então…
Terminou esta lição
Outras mais se seguirão
O estudo não pode acabar
Crescer…
É aprender a viver
Com bom senso e com saber
Vamos continuar…

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Meu pai




É-me difícil descrever os meus sentimentos em relação ao Meu Pai.
A admiração, estima e amor que sinto pela sua figura de Homem e de Pai é enorme.
Deixou um trabalho escrito que mostra o filósofo escondido e o modo sereno e crítico de ver o Mundo.Cabe-me tentar pôr em palavras escritas, a imagem de um homem bom, honesto, generoso, afável com toda a gente e com um orgulho muito típico de português, que sabe ser humilde quando a situação o exige e mostrar a sua vontade férrea quando tem a consciência do que deve fazer.
Era assim o meu Pai....
Um português dos "sete costados", aventureiro e humano.
Nasceu a 15 de Março de 1927, numa aldeia do interior de Portugal... de família humilde mas honesta que viviam do trabalho duro.
Estudou em Lisboa, casou em 1952 com a mulher que o acompanha toda a vida, nas alegrias e tristezas... a minha Mãe.
Vai para Angola, a sua paixão, em 1960 e com ele vamos nós, eu e minha mãe...Não enriqueceu, não explorou ninguém nem nunca o vi deixar de ser Humano para com todos os que dele se acercavam.... Suportou em Angola toda a guerra... de 1961 a 1975... e só quando a idade e a situação não lhe permitiram fazer mais é que abandonou aquela terra linda que ele amava tanto....
Depois de reformado, ainda se dedica à escrita, deixando um vasto espólio de textos....
Morreu em 1998, com o desgosto de não mais ter voltado à terra do seu coração....
E fiquei só! ...sem aquele Homem que foi o Meu Melhor Amigo, o Meu Guia durante toda a vida.....
Hoje deixo aqui esta memória, para os amigos que se lembram dele....

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Amigas...I

Tinha começado a conversa anterior por falar em Amigos...
Pois bem!
No meio de tanto burburinho que causámos neste país, com modos de vida e de pensar tão diferentes, algo positivo resultou!
Era fácil identificar....os retornados.
Era fácil por serem....diferentes!
E foi por essa diferença que encontrei uma AMIGA....também ela diferente, também ela "perseguida" pois tinha nascido e sido criada no.....Lobito!
A nossa amizade ainda hoje se mantém....ainda hoje, quando estamos juntas, nos tornamos nós próprias!
Sim! Nós próprias!
Que isso de viver num país diferente da nossa forma de estar, para conseguir uma vida social mínimamente aceitável, temos que nos "mascarar" e parecer o que não somos!
Quando uma kaluanda e uma lobitanga precisam de aliviar o stress desta vida, nada melhor que decidirem dar uma volta de carro, por qualquer ponto do país, divertindo-nos com os episódios mais caricatos que nos acontecem....
Prometo contar alguns...

Amigas!

Amigas...

Quando cheguei a este País em 1975, todas as Amizades que tinha....se perderam!
Não por nos termos zangado!
Não!!!!
Mas porque na situação em que viemos, cada um foi para seu lado sem tempo para as despedidas formais, troca de direcções, promessas de cartas, etc, etc...
E venho "cair" literalmente de pára-quedas, numa terra em que, por muito que me quisesse integrar, era... no mínimo...estranha.
Para mim, era estranho o modo de viver e socializar desta gente: amigos pela frente, críticos pelas costas!
Para eles, eu devia ser um ente de outro planeta, que me atrevia a percorrer as ruas de calções no Verão... que me atrevia a estender-me na margem do rio em biquini, "mostrando as carnes" e fazendo que, em cima da ponte, houvesse sempre "alguém a espreitar".
Chegou ao cúmulo de, no 1º Carnaval que por cá passei, ter sido expulsa...sim senhor!...EXPULSA de um salão de festas, onde decorria um baile de Carnaval para o qual tinha sido convidada por uns primos de meu pai!
Passo a contar:
Durante o dito baile, e no meio de várias músicas que eram tocadas ainda por um conjunto, foi tocado o "Bartolomeu", música que na altura estava "em alta".
Eu não sei dançar semba...agarrada!
E quando o tal meu primo, me veio tirar para dançar (ainda funcionava assim), eu disse que só sabia dançar...à minha maneira. "Não tem problema", disse ele. "Eu vou tentar acompanhar a tua maneira de dançar!"
E pronto!
O caldo entornou!
Quando comecei a dança, o baile parou.... os homens juntaram-se a um canto, olhando para a minha bunda, as mulheres não me bateram por pouco.... pois diziam que eu "tinha ido ali para desencaminhar os benditos e inocentes homens.... Eu era o pecado!"
Para que os ânimos acalmassem, foi necessário a minha "retirada" da festa!
E foi o 1º Carnaval em que saí da farra... às 23 horas!
A partir daí.... nunca mais fui a uma... festa de aldeia!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Histórias...

Histórias....

Sou uma pessoa muito prática!
Apesar de "brincar" com as palavras, toda a minha poesia é baseada em factos reais, sentidos e vividos.

Ao fim de 32 anos de carreira docente, tenho imensas histórias reais para contar!
As crianças têm uma lógica impressionante!
E vou deixar aqui uma das muitas histórias que me aconteceram!

Chegada de Angola em 1975, com o Diploma na mala e muita revolta na alma, fui colocada na vila da Sertã em Janeiro de 1976, onde me entregaram uma turma do 2º ano (antiga 2ª classe).
Apresentaram-me à turma e eu comecei nesse dia a minha actividade de professora!
Durante a 1ª semana, tudo correu bem... só havia um aluno que nunca mais apareceu! O Mário!
O Mário era uma criança que, após as aulas, ia pastorear o gado para uns terrenos baldios junto à vila. Como, ao fim de duas semanas continuava sem aparecer na Escola, resolvi comunicar o facto ao Delegado Escolar, homem já de idade e muito conhecedor da região.
Disse-me para ficar descansada, que ele iria averiguar o que se passava com o Mário!
Dois dias depois, entra pela sala de aulas o Sr. Delegado...com o Mário pelas orelhas!
Perguntei ao rapaz o que lhe tinha feito (não me dera oportunidade para fazer nada!) para que não quisesse vir às minhas aulas....
Resposta do aluno:
"Quero uma professora branca!...Não quero uma professora mulata!"

Esta frase, que nunca mais esqueci, revela bem o sentimento da população simples deste país em 1975/76, pelos chamados Retornados.
Para o garoto, a pele bronzeada de quem tinha vindo de África era sinónimo de...raça negra!

Letinha

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O Terço

Meus Amigos

Há muito que não escrevo neste blog...
Não por estar esquecido, mas pelos afazeres diários que me têm ocupado muito tempo...Mas hoje, não sei porquê, lembrei-me de uma história......talvez porque as Saudades apertassem mais!

Vivi durante alguns anos no Bairro Popular n.º 2.O mês de Maio, (para quem na altura tinha medo de ser "puxada" pelo diabo - EU), era o mês de presença diária na igreja, assistindo às novenas de Maria, rezando com fervor de adolescente confusa....
Pois bem!A história que vou contar, passou-se numa noite do mês de Maio, quando saía da novena!Tínhamos rezado com fervor o terço, mas parece que a Virgem não achou muita graça pois, à saída, fez cair uma chuvada daquelas...chuvas de Maio em Angola!
Eu e uma vizinha, sem chapéu de chuva ou qualquer resguardo, decidimos correr para casa tentando tapar os nossos vestidos de "missa" com um plástico que encontrámos junto à igreja!
Que corrida!
As duas, agarradas uma à outra (o plástico era pequeno) tentámos correr sincronizadas para manter a velocidade! Não sei qual de nós teve o azar de tropeçar num buraco (já então, poça de água)...e, levadas pela velocidade, zás!....estatelámo-nos ao comprido, numa rua que já era ribeiro....Imaginem o nosso lamentável estado quando chegámos a casa! Sem sapatos (perderam-se!) roupa toda enlameada (roupinha nova de Domingo!), molhadas até aos ossos (nem o plástico nos protegeu!), joelhos e cotovelos esfolados e preparadas para ouvir uma descompostura das mães (que realmente aconteceu!)....
No dia seguinte, rezámos o terço em casa!

Letinha

domingo, 27 de janeiro de 2008

A Vida!

O tema que aqui desenvolvo é simplesmente a minha visão da Vida!
É a MINHA filosofia que exponho, não recorrendo aos filósofos que antes de mim e depois de mim, irão debruçar-se mais seriamente sobre este assunto.
Posso estar errada! Admito que "só sei que nada sei", mas tento utilizar a lógica e, juntamente com a"experiência" da minha vida, criaram esta minha "forma de estar"!

A Vida

Qualquer cientista, por muito esforçado que seja, nos apresenta uma noção de vida no seu aspecto científico e biológico, ignorando todo o aspecto subjectivo que ela contém.
Para ele, só encara como verdade tudo o que puder medir, experimentar, calcular, pesar, formular, etc.
Pode-se fazer isto à vida física, corporal, vegetativa. Não se podem medir sentimentos e sensações. Estas são subjectivas e inatas de cada indivíduo.
Notamos assim, por muito práticos que sejamos, não podermos esquecer que existem, afinal, três "vidas" num indivíduo:
a vida física
a vida mental
a vida espiritual
Na vida física entra em função o aspecto vegetativo de qualquer ser vivo: nascimento, crescimento, reprodução e morte.
Estas funções primárias escondem a principal actividade do indivíduo: a sua evolução mental e espiritual.
A vida mental não é vegetativa. Vive do bom ou mau estado da vida física. Podemos chamar-lhe "parasita" da vida física. Mas é rica em sentimentos, reacções, sensações e emoções que transformam a vida física em algo que vale a pena ser vivido.
Dizem que a vida mental é "imortal"!
Acredito! Pois para mim, numa questão lógica e sabendo que na Natureza "nada se perde, tudo se transforma", não seria lógico "deitar fora" experiências e conhecimentos adquiridos ao longo de alguns anos (a vida física está calculada numa média de 70 anos).
A vida mental deve estar em constante evolução, mas depende do seu "hospedeiro" evoluir mais ou menos. Mas sempre evolui!
A vida espiritual, para mim, é o resultado de todas as experiências e sensações da vida mental.
É ela que forma a personalidade de um indivíduo, que "grava" no subconsciente todas as vivências passadas. Se, como é lógico, nada se perde, cada um de nós traz consigo, ao nascer, um "passado" cheio de experiências e sensações, de aptidões e aversões, de empatias e antipatias, de fobias e filias... enfim, aquilo que muitas vezes não conseguimos explicar!
Este tema é muito vasto e ainda desconhecido, pois ninguém pode medir, pesar, experimentar ou analisar, as vidas "não físicas" de um ser vivo!
Digo ser vivo porque ainda ninguém me provou que uma planta ou um animal não tenha as "outras vidas"!
Mais tarde vou continuar este tema.

Letinha

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Comentário

Mais um texto retirado do "Diário" de meu Pai...



Comentário


31 de Março de 1962

Outra vez a chover!!!

É assim desde alguns dias: umas vezes miudinha, desta de molha-tolos, outras com força de modo a molhar mesmo.

O europeu que não tenha visto chover em Luanda, dificilmente pode fazer uma ideia aproximada da fúria com que, às vezes, isso acontece. Qualquer pessoa diria que as cataratas do céu transbordaram e que de novo um dilúvio se desencadeia sobre a Terra.

Línguas de água, verdadeiras trombas de água, desabam incansavelmente sobre a cidade-jardim. Os transeuntes procuram fugir a elas conforme as possibilidades.

E hoje chove em Luanda!

A água do céu parece não querer deixar-nos. Hoje tem sido todo o dia, mas à hora dos cinemas é que foram elas! Ontem foi pior... foi mesmo na hora de todos sairem de casa para as suas ocupações diárias... Ah! Anteontem foi à saída dos empregos...

Tem sido uma verdadeira correria para os motoristas de táxis... Do mal das constipações, que mais ou menos cada um vai apanhando, há ainda os estragos que estas chuvadas vão fazendo. O estado em que vão ficando as ruas, cheias de buracos e buraquinhos, quando não há buracões por toda a parte... E as árvores, coitadas!!! Pobres delas! Quantas têm sido derrubadas!!! As brigadas do pessoal camarário têm acudido com diligência. Têm feito o que podem. E por não poderem fazer mais, a cidade começa a ter um aspecto desolador, talvez porque sejam poucos os trabalhadores escalados para tal serviço... Os buracos causados pelas chuvas são muitos e os homens para os reparar, são poucos!!!

E os peões?

Esses têm que se defender da água que vem de cima e... cautela com a que vem de baixo... Buraco aqui, buraco ali e um descuido (mesmo com bastante cuidado) zás!... pé na água.

Luanda que não tem hortas, bem podia dispensar tanta chuva!!!

Bastava-lhe uns pinguinhos de vez em quando para regar os seus jardins!!!

E na Ilha?

Na Ilha a coisa tem sido mais grave. Água por todos os lados já ela tem, exactamente por que é uma Ilha, mas a que tem vindo do céu, essa é demais!!!As vagas, por vezes alterosas, atravessam-na nalguns pontos de um lado ao outro. Temos ainda pequenas lagoas que se formam por uns dias, semanas e até meses. E o mal para a saúde pública que isso nos tráz? Só os mosquitos agradecem aos homens que lhes não acabem com os buracos, para que possam, mais tarde, pagar-lhes com febres!

Basta já de tanta chuva! Já chega!

Que se fechem as torneiras do céu!

Mas se ainda agora estamos no princípio... Para o mês que amanhã entra, será pior! Aliado às chuvas, as trovoadas de África!!!

Que grandes trovoadas! Que grandes chuvadas!

E o calor sempre a apertar, a fazer companhia...


(retirado do Diário de A . Torres)
Letinha